Sindicalista




1° de MAIO
Praça da República, em frente ao cinema Olímpia

 

Jornal do Dia, 02 de maio de 1962 - A tão anunciada concentração monstro, programada para a noite de ontem na Praça da República, terminou de forma inesperada e violenta, O desfile que estava marcado para as 20 horas, só teve inicio às 20h30min, quando começou a "saudação do proletariado" às autoridades e aos líderes sindicais, que se encontravam no palanque armado em frente ao cinema Olímpia. 
O primeiro orador a falar foi o Sr Raimundo Jinkings, presidente Pacto Operário Estudantil e Camponês que, saudando os trabalhadores, enalteceu a memória do líder camponês João Teixeira, assassinado no mês passado no interior da Paraíba, A seguir, entrou em considerações a respeito das condições de vida das classes humildes, ocasião em que afirmou: "os episódios da Argentina e Portugal não se repetirão no Brasil, devido o consenso democrático de nossas autoridades militares". E prosseguiu: "Naqueles países os trabalhadores são cerceados em seus direitos, dentro de seus próprios Sindicatos". Nesse instante Don Alberto Gaudêncio Ramos, que também estava no palanque, acrescentou: "E na Rússia também". Ao que o orador respondeu: "Não aceitamos provocações. Aqui estamos para 'expressar nosso pensamento. A festa é dos trabalhadores".
Ao terminar oração do Sr Jinkings, haviam abandonado a concentração os Srs. general Taurino Rezende (comandante da 8ª Região Militar), o almirante, José da Silva Jr (comandante do 4º Distrito Naval) e o brigadeiro Francisco Borges (comandante da 1ª Zona Aérea).

SÓ PREFEITO FICOU
O orador seguinte foi o Sr. Zacarias Fernandes, presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Fumo e um dos diretores da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias. Entretanto a massa popular exigia que a palavra fosse franqueada ao Sr Carlos Sá Pereira, do Sindicato dos Trabalhadores do Petróleo.
Não sendo atendido, o público resolveu escutar Zacarias Fernandes, que, aliás, foi bastante aplaudido.·.
Já a essa hora deixava o local do "meeting" o arcebispo D. Alberto Gaudêncio Ramos, dizendo ao repórter: "Vou porque ai não mais está representado o povo. Aí es um grupête".  A mesma atitude tomou o Sr Waldomiro França, delegado Regional do Traba1ho. Das autoridades presentes, só o Sr. Isaac Soares permaneceu, mesmo depois de ter ouvido as censuras feitas ao procedimento do prefeito municipal e do governador do Estado em relação ao jogo do bicho e ao contrabando.

ALTO FALANTES DESLIGADOS
O Sr, Zeferino ferreira, presidente da Federação dos Trabalhadores na Indústria, verificando que o povo insistia no desejo de ouvir o Sr Carlos Sá Pereira, acabou por aquiescer às exigências, cedendo o microfone ao líder dos trabalhadores do petróleo. Mas, Sá pereira ao pronunciar as primeiras palavras teve a voz silenciada, pois foi desligado o microfone, fechando os amplificadores, e retirando a chave, do motor que fornecia luz à praça. A ordem - segundo fomos informados - partira do Sr, Gabriel Hermes Filho, presidente da Federação das Indústrias. Daí em diante os protestos se multiplicaram e o repúdio dos assistentes se generalizou. Em vista do acontecimento os manifestantes se dirigiram a redação do JORNAL DO DIA com a finalidade de registrar em nosso noticiário o esbulho aos seus direitos de livre manifestação de suas ideias. 

CARTAZES
Vários cartazes sobre assuntos atuais e expressando o pensamento dos trabalhadores foram exibidos durante a passeata. Dois deles exaltavam o Jornal do Dia e o apoio que tem dado aos sindicatos.
Além desses cartazes anotamos mais 0S seguintes: "Aliança para o Progresso? Fossas, esgotos e cacimbas. Very good, migalhas que salvarão o Brasil", "Latifúndio e miséria. Solução Reforma Agrária", "Aumento dos salários 20%, aumento de preços 60%, aumento da miséria 40%", "Viva o Pacto, fora com os pelegos".
O discurso (não pronunciado) do líder Sá Pereira versava sobre a origem das festas de 1º de maio, Dia do Trabalhador. Abordava também tópicos sobre as reivindicações dos trabalhadores e a luta que estes enfrentam para obter melhores condições de vida. Finalmente a oração fazia veemente protesto por ser a festa do 1° de maio patrocinada pelo SESI e pela existência de carros alegóricos com nomes de empresas patronais.
 

,

Nenhum comentário: