quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

A arte de Kseniya




A artista ucraniana Kseniya Simonova usa uma caixa de luz, imaginação e muita criatividade na produção de animações em areia. Emociona ao dramatizar a invasão e ocupação da Ucrânia pela Alemanha, na segunda Guerra Mundial.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Trailer Cidadão Boilesen





Trailer do importante documentário de Chaim Litewski sobre o dinamarquês Henning Albert Boilesen, empresário justiçado pelo movimento da esquerda armada em 1971.

Eis que os arquivos começam a emergir. A História precisa ser restaurada e a nossa memória resgatada.



Recebemos de Nanda:

Em editorial na edição de 24 de dezembro de 2009, o Jornal do Brasil comenta o filme Cidadão Boilesen, chamando a atenção para a coincidência de seu lançamento, com o momento em que o governo federal detalha suas propostas do Programa Nacional de Direitos Humanos e a criação da Comissão Nacional da Verdade, que analisaria as violações ocorridas durante a ditadura civil-militar de 1964.

No editorial o JB também colhe depoimento do dirigente da ALN, Carlos Eugênio Paz, líder na ação que fuzilou o industrial dinamarquês Henning Albert Boilesen, em 15 de abril de 1971. No depoimento, Carlos Eugênio Paz afirma, que faria tudo de novo, se as circunstâncias fossem as mesmas.

Atualmente filiado ao PSB e colaborador do MST, Paz sustenta, que a Aliança Libertadora Nacional (ALN), não tinha dúvidas do envolvimento do empresário com as mortes de companheiros de luta nos porões da ditadura assim como do hábito que ele tinha de participar pessoalmente das sessões de tortura, na sede do DOI-Codi de São Paulo. “Na guerra a gente usa as armas da guerra, na paz as armas da paz. Ele estava do outro lado e fez a opção dele. Não era um inocente. Não há do que se arrepender” diz Carlos Eugênio Paz.



terça-feira, 10 de novembro de 2009

FALTA O RECONHECIMENTO

As postagens abaixo são do Blog do Barata, jornalista paraense. A homenagem comoveu a família. Obrigado ao jornalista. O Governo do Pará
não rendeu homenagem a Raimundo Jinkings, cujas algumas lembranças da contribuição inestimável de Jinkings, foram postadas pelo jornalista.
O jornalista e livreiro Raimundo Jinkings dedicou sua vida ao Pará e à luta por um mundo mais justo. Como lembra Barata, Raimundo Jinkings e Neyro Rodarte foram pioneiros nas Feiras de Livros, sempre com o esforço de levar a boa literatura ao maior número de leitores possível. Uma citação que costumava colocar em um cartazinho nas feiras diz muito:

"O Livro não muda o Mundo/ O Livro muda as Pessoas/ Quem muda o Mundo são as Pessoas"

domingo, 8 de novembro de 2009
LITERATURA - Polícia na feira

Como encontraram vagões de trem, deixados pelo 1º Comando Aéreo Regional, que acabara de realizar uma exposição na praça da República e ainda não removera-os, alguns livreiros decidiram também utilizá-los para abrigar seus livros. Com tudo pronto, alguns (poucos) livreiros aproveitaram para incluir, no vasto elenco de livros expostos, alguns títulos que estavam censurados e com a venda proibida. Foi a senha para o dedo-duro que inviabilizou a feira, ao denunciar e venda de livros proibidos.

A denúncia foi feita ao comandante do 1º Comar, que acionou à Polícia Federal. Esta empastelou a feira, apreendeu livros e esfarinhou os planos de Raimundo Antônio Jinkings e Neiro Rodarte. O dedo-duro teria sido um modesto livreiro, com representações de editoras sem grande expressão e por isso incomodado com aqueles que dispunham de catálogos mais alentados. No caso, a miséria humana, na forma da inveja e do arrivismo, serviu de combustível para fazer recrudescer a intolerância.

Postado por Augusto Barata às 03:07

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domingo, 8 de novembro de 2009


LITERATURA - Tempos sombrios

Tempos sombrios eram também aqueles, de 1981. Naquela altura, a linha-dura do regime militar fustigava o governo do general-presidente João Figueiredo, resistindo à abertura política e ameaçando, com seus atos terroristas e manifestações de intolerâncias, a redemocratização do país. Aqui, o governo Alacid Nunes, cujo secretário de Cultura era um comerciante que em suas origens havia sido representante de laboratório, mostrava-se um terreno infértil para a idéia de dar apoio oficial a feiras do livro.

Foi sob esse cenário que um grupo de livreiros, à frente Raimundo Antônio Jinkings e Neiro Rodarte, decidiu realizar a primeira Feira do Livro de Belém, que acabaria empastelada pela Polícia Federal, então a serviço da repressão da ditadura militar. Feita sem nenhum apoio oficial e montada em plena praça da República, a feira seria realizada em um fim de semana, utilizando barracas de campanha ironicamente cedidas pelo Exército. Essa inusitada parceria com o Exército talvez encontre explicação na participação de Neiro Rodarte, politicamente um liberal, no melhor sentido do termo, que seduz pela elegância, com uma urbanidade incomum por esses agrestes trópicos.
Postado por Augusto Barata às 03:08
2 comentários:
Anônimo disse...
Eu lembro dessa iniciativa lá na Praça da República, e também do Neyro e do Jinks tentando implantar aqui em Belém uma feira semelhante a que já havia em São Paulo e Rio de Janeiro. é verdade Barata, não podemos esquecer de como tudo começou.
8 de Novembro de 2009 21:52

Anônimo disse...
OS QUE DESBRAVARAM A FEIRA, INICIARAM UM PROCESSO HISTORICO IMPORTANTE.IMAGINE QUE NAO TINHAM APOIO NENHUM, NEM LUGAR ADEQUADO! E OLHA SÓ, ISSO MOSTRA QUE VONTADE PODE TUDO.ELES FORAM CORAJOSOS.UM BOM COMEÇO AQUELE...MAIS QUE MERECIDO UMA HOMENAGEM.HOJE, A FEIRA TEM INTROMISSÕES POLITICAS DISVIRTUADAS, MAS PELO MENOS CONTINUA.OS PREÇOS É QUE NAO SAO DE FEIRA


LITERATURA - Os perigos do saber

Com os direitos políticos cassados e singrando a atividade de livreiro, após ter sido obrigado a ser feirante para sustentar a família, Jinkings, até o golpe de 1964 um bancário do Banco da Amazônia (do qual foi demitido pela ditadura militar e a ele reintegrado com a anistia, em 1989), deixava a sala de visita de sua casa na rua dos Mundurucus, onde funcionava então, precariamente, aquela que viria a ser a livraria Jinkinks, para se expor publicamente. Sim, porque particularmente no seu caso, vender o saber, uma mercadoria vista sempre com suspeita pelo regime dos generais, implicava riscos imprevisíveis.

Juntamente com ele, participava da empreitada o advogado e jornalista João Marques, o combativo presidente do Sindicato dos Jornalistas do Pará, em uma época em que não havia espaço para posturas dúbias. O dualismo da época, se pensarmos bem, compele ao reconhecimento da dignidade de João Marques, cujas eventuais contradições políticas não obscurecem o mérito de ter tido a coragem se manter sempre, como presidente do sindicato da categoria, à disposição de todo e qualquer jornalista molestado por qualquer tipo de violência e/ou constrangimento. Um triste contraponto ao (patético) presente, vamos combinar!
Postado por Augusto Barata às 03:10

1 comentários:
Anônimo disse...

Com certeza Barata, e a homenagem vai para o filhos,em especial para uma que é juíza e a outra delegada, todas muito competentes e estudiosas, tudo o que um pai espera de seus filhos.


domingo, 8 de novembro de 2009
LITERATURA - Os pioneiros das feiras

As novas gerações de leitores não têm obrigação de saber, pois são parcos os registros a respeito. Por isso convém revelar-lhes os primórdios desse suntuoso evento no qual se transformou a Feira Pan-Amazônica do Livro. E conhecer os personagens da saga que foi realizar as primeiras feiras do livro em Belém.

Em pleno auge da ditadura militar, no início dos anos 70 do século XX, os chamados anos de chumbo, quando - subvertendo o princípio jurídico da inocência presumida - qualquer suspeito era culpado até prova em contrário, Raimundo Antônio Jinkings, livreiro e lendário comunista de Belém, aproveitava o vazio do Grande Hotel, já à espera da demolição para a construção do modernoso Hilton, para realizar, no cômodo térreo localizado na esquina da rua Carlos Gomes, uma incipiente feira, com os livros vendidos a preços populares e dispostos desordenadamente.
Postado por Augusto Barata às 03:13

5 comentários:

Anônimo disse...
Barata, voce quis dizer horroroso hilton...
8 de Novembro de 2009 06:13

Anônimo disse...
so pra aprovritar a deixa(esses é antiga), em icoaraci dois casaroes belos foram postos a baixo pra abrigar uma loja de departa,ento visao e um banco.Os crimes contra nosso patrimonio continum.tudo em silencio
8 de Novembro de 2009 06:15

Anônimo disse...
Barata, com certeza o seu arquivo é poderoso. Só você mesmo para lembrar desses dois pioneiros de feira do livro. Valeu pela sua "memória" e pelo registro.
8 de Novembro de 2009 14:55

Anônimo disse...
Os livros do Jinkings eram realmente muuuuuito mais barato que os preços hoje da Feira, um hooooorrror.
8 de Novembro de 2009 20:01




Mas é oportuno lembrar, como reconhecimento aos pioneiros de um passado sequer remoto, aquelas feiras que lhe foram precursoras, inclusive quando desafiavam o status quo consagrado pela ditadura militar, para que os jovens de agora não desconheçam a importância da oportunidade que lhes é oferecida. Tanto quanto é oportuno reconhecer aqueles que contribuíram em viabilizar as primeiras feiras do livro realizadas com apoio oficial, das quais participavam – ontem como hoje - nomes de expressão nacional da literatura brasileira.

E os nomes desses pioneiros não são tantos, assim, que custe lembrar. Os pioneiros em investir na realização das feiras foram Raimundo Antônio Jinkings (na foto, de pé, à esq., com Ziraldo, sentado, à dir.) e Neiro Rodarte, livreiros que marcaram época em Belém. Jinkings é morto e Neiro abandonou o ramo. Os governos estaduais tornaram-se sensíveis à pregação deles a partir da redemocratização, cujo marco é a eleição direta de Jader Barbalho, do PMDB, como governador, em 1982. A partir daí sucederam-se as feiras dos livros, nem sempre com a regularidade desejada, por conta do vaivém da gangorra do poder.

Postado por Augusto Barata às 03:16

2 comentários:

Anônimo disse...
Gostei, Barata, bem lembrado.
8 de Novembro de 2009 08:05

Conceição disse...
E o Jinkings morreu e os governos nunca fizeram uma homenagem a ele. Êta gente insensível. Homenageiam um monte de fdp e quem merece tá ái esquecido.
9 de Novembro de 2009 23:37

domingo, 8 de novembro de 2009

LITERATURA – A história das feiras em Belém

Em um país onde é lugar-comum se afirmar que o povo não tem memória, não seria fora de propósito supor que do mesmo mal padecem os seus sábios e sabidos.

A pertinente observação, feita pela jornalista Dora Karmer ao comentar os lapsos de memória determinados pelas conveniências dos poderosos de plantão, vem a propósito da recalcitrância dos organizadores da Feira Pan-Amazônica do Livro em reverenciar aqueles que figuram na gênese do evento. A realização da feira, que a propaganda oficial apresenta como a quarta maior do Brasil, merece elogios, naturalmente, e deve ser motivo de orgulho para todos nós, paraenses.

Postado por Augusto Barata às 03:21

domingo, 8 de novembro de 2009

LITERATURA – Memória, uma lacuna a preencher

Sob o signo do governo petista de Ana Júlia Carepa, a Feira Pan-Amazônica do Livro fica devendo uma homenagem aos pioneiros de eventos do gênero no Pará. A exemplo do que ocorreu durante os 12 anos de sucessivos governos do PSDB no Pará, entre 1995 e 2006.

Por isso, reproduzo nas postagens subseqüentes, com as atualizações devidas, uma tentativa de resgate da história de feiras do livro no Pará, datada de 2005 e que remete aos tempos da ditadura militar.

Postado por Augusto Barata às 03:22

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segunda-feira, 28 de setembro de 2009

TORTURADORES NÃO PODEM SER ANISTIADOS


Torturadores não podem ser anistiados, afirma juíza

A Lei de Anistia que indultou ativistas de esquerda e torturadores, em agosto de 1979, pode sofrer um revés para aqueles que praticaram torturas durante o período de exceção. Está em tramitação no STF (Supremo Tribunal Federal) uma ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) apresentada pela OAB questionando a extensão do benefício aos torturadores. A ação não considera que os crimes de tortura se enquadrem nos crimes conexos.

Lúcia Rodrigues, na revista Caros Amigos

A juíza Kenarik Boujikian Felippe também acredita que os crimes de tortura não podem ser classificados como crimes conexos, como determina a Lei de Anistia, aprovada há 30 anos. Ela argumenta que os agentes da repressão militar seviciaram nos porões do regime, violaram direitos humanos: “Tortura e estupro não podem ser caracterizados como crimes conexos, mas sim de lesa humanidade”, frisa.

Para Kenarik, um parecer favorável do STF à ação impetrada pela OAB representará uma vitória da democracia. “Essa ação é um marco para a democracia. Sua aprovação permitirá que todos os torturadores sejam processados”, destaca.

A juíza, que também é dirigente da Associação de Juízes para a Democracia, conversou com a reportagem da Caros Amigos durante a abertura da exposição A Luta pela Anistia 1964 - ?, no último sábado, 08, no Memorial da Resistência, antiga sede do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), um dos centros de tortura mais temidos da ditadura militar.

Resgate da história

O resgate da luta e resistência ao arbítrio militar pelos ativistas de esquerda é um dos principais objetivos da mostra. Segundo o jornalista e escritor Alípio Freire, curador da exposição, não se pode falar em democracia sem se resolver questões essenciais como a punição aos torturadores.

A abertura dos arquivos, para esclarecer, inclusive, a participação de empresários que financiaram a repressão, a identificação dos corpos dos desaparecidos políticos e o indiciamento e julgamento dos responsáveis por esses crimes também são destacados pelo jornalista, como elementos essenciais para que se conquiste efetivamente a democracia.

Freire foi um dos inúmeros ativistas que passaram pelos porões do Dops, no final da década de 60. Militante da Ala Vermelha, ficou preso de 06 de setembro a 28 de novembro de 1969, vindo da Oban (Operação Bandeirante), embrião do famigerado DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna), onde já se encontrava detido desde 31 de agosto do mesmo ano.

No total, Freire permaneceu preso por cinco anos, um mês, um dia e 18 horas. “Há divergências sobre os minutos”, brinca. Ele conta que a exposição foi pensada para atingir os jovens estudantes que freqüentam o local. “Queremos mostrar que a luta valeu a pena. Passei por tudo isso e estou, aqui, inteiro. Tenho orgulho dessa história”, ressalta o curador da exposição.

O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) também aproveitou o sábado para visitar a exposição sobre a campanha pela a anistia. Valente foi ativista do MEP (Movimento de Emancipação do Proletariado), organização clandestina de combate à ditadura militar. Assim como Freire passou pelos cárceres da repressão. Sua prisão aconteceu no Rio de Janeiro, onde militava politicamente.

Valente ficou 10 dias incomunicável na sede do DOI-Codi carioca, localizado na rua Barão de Mesquita, 425, na Tijuca, zona norte. De lá seguiu para o Dops, na rua da Relação, na Lapa, zona central.

Ele também ficou preso no presídio de segurança máxima de Bangu, na zona oeste da cidade, onde permaneceu por quatro meses, e no presídio Frei Caneca, localizado no bairro do Estácio de Sá, onde esteve encarcerado mais três meses. Foi libertado seis meses antes da promulgação da Lei de Anistia, em fevereiro de 1979.

“É inaceitável que um governo dito popular mantenha os arquivos da ditadura cerrados”, critica ao se referir ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O deputado do PSOL paulista também contesta o fato de o governo federal ter excluído os familiares dos combatentes mortos na Guerrilha do Araguaia pelo Exército, no início da década de 70, das buscas por seus restos mortais.

“Os interessados na apuração dos fatos foram simplesmente excluídos das buscas. Não vamos deixar que passem uma borracha na história. Exigimos a punição dos envolvidos no caso do Araguaia e dos torturadores”, ressalta Valente.

A exposição A Luta pela Anistia 1964 - ? permanece em cartaz até 18 de outubro. A mostra traz fotos e cartazes sobre a campanha pela anistia, além de capas de jornais alternativos da época, como Companheiro, Movimento, Em Tempo, Ex 16.

Também é possível encontrar na exposição, relatórios e telegramas de agentes secretos da repressão sobre as atividades realizadas pela esquerda, endereçados ao então Delegado Geral de Polícia do Dops, Romeu Tuma, hoje senador do PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) por São Paulo.

Como pensava o brasileiro

Além da iconografia e dos materiais sobre a repressão exercida pelo Dops é possível encontrar na mostra relíquias como uma pesquisa de opinião do Ibope, realizada em março de 1964, em várias capitais do país.

Nela, os brasileiros são consultados sobre temas como reforma agrária e grau de simpatia partidária. Os entrevistados também são arguidos a se manifestar como votariam caso fosse possível o então presidente João Goulart, o Jango, se candidatar à reeleição.

O Nordeste brasileiro é o que apresenta o maior percentual de apoio à reeleição de Jango. O Recife encabeça a lista com a adesão de 60% dos entrevistados, seguido de perto por Salvador, com 59% e de Fortaleza, com 57%.

Belo Horizonte e São Paulo aparecem na outra ponta da tabela. As duas cidades, respectivamente com 39% e 40%, têm o menor índice de apoio a Jango, caso este pudesse concorrer novamente ao cargo.

Quando o assunto é reforma agrária, o apoio da população brasileira à tese aumenta exponencialmente. O Rio de Janeiro lidera a lista das cidades favoráveis à repartição da terra, uma das principais bandeiras das reformas de base propostas pelo governo Jango.

Oitenta e dois porcento dos cariocas aprovavam a efetivação da reforma agrária no país. Salvador aparece na sequência com 74% de adesão. Recife e Porto Alegre vêm em seguida, empatados com 70%. Seguidos de perto por Fortaleza, com 68%, Belo Horizonte, com 67% e São Paulo, com 66%. A capital com o menor índice de aprovação à reforma agrária é Curitiba, com 61%.

O resultado para a enquete sobre o grau de simpatia partidária da população, revela o alto índice de rejeição dos nordestinos pelos partidos políticos. Sessenta e nove porcento dos moradores do Recife afirmam não simpatizar com nenhuma sigla. A cidade de Fortaleza vem na seqüência, com 55%, seguida de perto por Salvador, com 54% de rejeição.

O grau de rejeição partidária cai nos Estados do sul e sudeste Quarenta e sete por cento dos moradores de São Paulo e Curitiba declararam não ter simpatia por nenhuma legenda partidária. Dos 53% dos paulistanos que afirmaram simpatizar com algum partido, 16% citaram o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), sigla do então presidente João Goulart. O PSP (Partido Social Progressista) foi lembrado por 11% dos entrevistados. A legenda tinha como principal liderança na época o então governador paulista Ademar de Barros.

Outros partidos são lembrados por 12% da população paulistana. Mesmo não havendo referência a quais seriam esses partidos a que os eleitores se referem, provavelmente deve tratar-se do PCdoB (Partido Comunista do Brasil) e PCB (Partido Comunista Brasileiro), pois é na capital paulista onde está concentrado o maior número de trabalhadores da indústria, base de atuação dos dois partidos.

O Rio de Janeiro é a capital brasileira com o maior grau de adesão partidária: 81% declararam simpatizar com algum partido. Destes, o PTB, lidera com a aprovação de 44% dos moradores do município. A UDN (União Democrática Nacional), legenda do então governador da Guanabara, Carlos Lacerda, principal adversário de Jango, aparece em 24% das respostas.

Porto Alegre segue de perto o Rio, com 80% de simpatia partidária. Destes, 62% declararam simpatizar com o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro). Sessenta e seis por cento dos moradores de Belo Horizonte afirmavam simpatizar com algum partido político.

A capital mineira é onde se registra o maior grau de equilíbrio entre as forças partidárias. O PTB é apontado por 23% dos entrevistados, seguido de perto pelo PSD (Partido Social Democrático), legenda de Juscelino Kubitschek, antecessor de Jango na presidência da República, com 22%. A UDN é citada por 17% dos entrevistados.

Portal Vermelho

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Ziraldo, amigo da Livrariazinha.

Incentivar o hábito da leitura é a ideia do ABZ do Ziraldo.

Apresentado pelo escritor e cartunista Ziraldo, é exibido aos domingos, às 12h, com participação de um coral infantil e de uma plateia repleta de crianças que estudam em escolas públicas.

A cada domingo, um escritor será convidado para divulgar sua obra e ser entrevistado por Ziraldo e pelas crianças.

O programa ainda abre espaço para o contador de história, com apresentação rica de objetos cênicos, acompanhamento musical e interatividade das crianças da plateia.



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quinta-feira, 25 de junho de 2009

Tortura Nunca Mais acusa


Mais um Capítulo na Produção do Esquecimento


No último dia 03 de junho, o Ministro da Defesa, Sr. Nelson Jobim, convocou alguns poucos familiares de mortos e desaparecidos políticos e membros da Comissão Especial da Lei 9140/95 para uma reunião, na sede do Ministério da Defesa, em Brasília.

O objetivo desse encontro era informar aos presentes da edição da Portaria nº 567, de 29/04/2009, designando um Grupo de Trabalho com a finalidade de coordenar "as atividades necessárias para a localização, recolhimento e identificação dos corpos dos guerrilheiros e militares mortos no episódio conhecido como Guerrilha do Araguaia"

O General Brandão, chefe do Serviço de Informação do Exército brasileiro, também estava presente à reunião, o que a nosso ver foi uma tentativa perversa de constrangimento aos familiares presentes.

A edição da referida portaria não só atropela as atribuições da Comissão Especial da Lei 9.140/95 - que tem competência legal para coordenar os trabalhos de localização e identificação dos corpos dos militantes políticos - como entrega a coordenação ao General Mário Lúcio Alves de Araújo, comandante do 23º Batalhão de Infantaria de Selva, que em entrevista ao jornal "O Norte de Minas", publicada em 31 de março de 2009, declarou "(...) há exatos 44 anos o Exército brasileiro atendendo a um clamor popular foi às ruas contribuindo substancialmente e de maneira positiva, impedindo que o Brasil se tornasse um país comunista"

Não reconhecemos a legitimidade deste Grupo de Trabalho, de caráter militar, executada e comandada pela 23º Brigada de Infantaria de Selva, que teve importante papel no massacre à Guerrilha do Araguaia e foi co-responsável pelas torturas, execuções, mortes e ocultação de cadáveres dos guerrilheiros.

Entendemos que o papel das Forças Armadas nesse processo é o de fornecer as informações que estão nos seus arquivos e que já deveriam ser do conhecimento de todos os brasileiros.

É importante frisar que a formação desse malfadado grupo de trabalho, assim como as publicações de parte do arquivo considerado como pessoal do militar Sebastião Curió Rodrigues de Moura, Major Curió - um dos repressores à Guerrilha do Araguaia -, veiculadas no Jornal Estado de São Paulo, em 21 e 22/06/09, não podem ser vistas como uma coincidência. O governo brasileiro está sendo, no momento, obrigado a responder sobre as circunstâncias das mortes e desaparecimentos, como a localização dos corpos dos desaparecidos na Guerrilha do Araguaia tanto pela justiça nacional como internacional. Há, inclusive, uma representação junto à Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA sobre o assunto.

Por tudo isto:
Defendemos que todas as iniciativas de localização, recolhimento e identificação dos corpos dos guerrilheiros mortos e desaparecidos sejam conduzidas pela Comissão Especial, constituída e funcionando sob o escopo da Lei nº 9.140 de 1995.

Exigimos das Forças Armadas a abertura de todos os arquivos com as informações guardadas pelos militares que sirvam de subsídios aos trabalhos dirigidos pela Comissão Especial - Lei 9.140/1995, à qual se deveria agregar equipes qualificadas de Arqueologia Forense e de suporte para todas as investigações necessárias.

Exigimos, portanto, o fiel cumprimento de sentença exarada pela juíza Solange Salgado, em 30 de junho de 2003 que indica ao governo brasileiro abertura de todos os arquivos das Forças Armadas e a intimação dos militares envolvidos para prestarem depoimento.

Pela Vida, Pela Paz,Tortura Nunca Mais!

Rio de Janeiro, 23 de junho de 2009
Grupo Tortura Nunca Mais/RJ

A diferença diante da crise - Lula e FHC



Didática exposição a partir do filme Zeitgeist Addendum. Muito bom.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Reparação Justa Para Todos, Já

02 Apesar de Voce.wma

Apesar De Você
Chico Buarque

(Coro Crescendo)
Amanhã vai ser outro día x 3

Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão, não.
A minha gente hoje anda
Falando de lado e olhando pro chão.
Viu?
Você que inventou esse Estado
Inventou de inventar
Toda escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar o perdão.

(Coro)
Apesar de você
amanhã há de ser outro dia.
Eu pergunto a você onde vai se esconder
Da enorme euforia?
Como vai proibir
Quando o galo insistir em cantar?
Água nova brotando
E a gente se amando sem parar.

Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros. Juro!
Todo esse amor reprimido,
Esse grito contido,
Esse samba no escuro.

Você que inventou a tristeza
Ora tenha a fineza
de “desinventar”.
Você vai pagar, e é dobrado,
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar.

(Coro2) Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Ainda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria.

Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença.

E eu vou morrer de rir
E esse dia há de vir
antes do que você pensa.
Apesar de você

(Coro3)
Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia.

Como vai se explicar
Vendo o céu clarear, de repente,
Impunemente?
Como vai abafar
Nosso coro a cantar,
Na sua frente.
Apesar de você

(Coro4)
Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Você vai se dar mal, etc e tal,
La, laiá, la laiá, la laiá…….


Presidente Lula,
Queremos os arquivos da ditadura abertos
e toda a dor e o sofrimento reparados.

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domingo, 10 de maio de 2009

Dia das Mães - Homenagem


A emocionante carta de Olga à Anita e a Carlos (Prestes).
É sua despedida. Escrita na prisão, no campo de concentração, às vésperas da execução.


sexta-feira, 1 de maio de 2009

Trabalhadores. Lembrança da Praça do Operário

postado por Nise

Primeiro de Maio 
(Chico Buarque e Milton Nascimento)

Hoje a cidade está parada
E ele apressa a caminhada
Pra acordar a namorada logo ali
E vai sorrindo, vai aflito
Pra mostrar, cheio de si
Que hoje ele é senhor das suas mãos
E das ferramentas

Quando a sirene não apita
Ela acorda mais bonita
Sua pele é sua chita, seu fustão
E, bem ou mal, é o seu veludo
É o tafetá que Deus lhe deu
E é bendito o fruto do suor
Do trabalho que é só seu

Hoje eles hão de consagrar
O dia inteiro pra se amar tanto
Ele, o artesão
Faz dentro dela a sua oficina
E ela, a tecelã
Vai fiar nas malhas do seu ventre
O homem de amanhã

enviado por Nise

sábado, 25 de abril de 2009

O discurso de Prestes - São Paulo a Luís Carlos Prestes



O filme é de Ruy Santos: Comício - São Paulo a Luis Carlos Prestes.
Do histórico discurso proferido no Estádio do Pacaembú em São Paulo, em julho de 1945. Luis Carlos Prestes é homenageado por trabalhadores da cidade e do campo e, ainda, por ilustres como Monteiro Lobato e Pablo Neruda, que lê o poema Mensagem. Mais de 100 mil pessoas lotaram o estádio.

Prestes, que - mesmo preso - foi eleito o Secretário Geral do Partido Comunista do Brasil na Conferência da Mantiqueira, em 1943, sai da prisão em abril de 1945. Foram 9 anos de cadeia. O Partido conquista um breve período de legalidade, após massiva campanha.

Prestes é, nesse mesmo ano, eleito senador pelo Partido. O mais votado da República, com mais de 160 mil votos.

Impressionante.

Filme Comício: São Paulo a Prestes
Direção e fotografia de Ruy Santos
Texto de Alinor de Azevedo
Narração: Amarílio de Vasconcelos
Realização: Comitê Central do Partido Comunista

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Raimundo Jinkings: Um Semeador


“Uma família que tem por hábito plantar livros, só poderá colher nessa vida boas historias." (do pai de Clarinha)
Um Semeador

Clarinha, certo dia de 1992, visitava o Brasil com uns amigos e foi assaltada. Na Praça Batista Campos, em Belém. Um assalto violento à mão armada.

O assaltante a perseguiu e a feriu no braço com uma faca e tomou-lhe a bolsa. Ela conseguiu fugir e refugiou-se em uma livraria próxima.

Ela retornou à Paris, onde residia, com uma cicatriz de 16 pontos que levou o corte no braço. Ao recordar o episódio, conta ela, o que lhe veio à mente foi uma grata sensação do acolhimento e da solidariedade que recebeu naquela livraria. A gentileza daquele homem de cabelos branquinhos, que a amparou naquele momento, lhe oferecendo carinho e tanta atenção, foi o que marcou Clara. Muito mais do que aquela cicatriz.

O senhor de cabelos brancos ofereceu-lhe água, chamou a polícia, ligou para as pessoas que a hospedavam no Brasil, perguntou se precisava de algo, de dinheiro. Só depois soube o nome da livraria. Levou com ela, de volta a Paris, o nome da livraria Jinkings, a lembrança da agressão e a recordação daquele homem gentil. Ela tinha apenas 15 anos.

Anos depois, em 2009, navegando na rede, passando por um site de relacionamento, ela encontrou alguém que morava em Paris e tinha aquele nome que ela jamais esquecera. Deixou, então, um recadinho perguntando se teria ligação com aquela família de Belém.

Foi assim que, ao encontrar Mayra, neta de Raimundo Jinkings, ela pode resgatar aquela lembrança, com nome e sobrenome. Aquele homem gentil agora tinha nome, sobrenome e uma história que a emocionou.

Clara nos presenteou – a família – com o seu depoimento de uma lembrança que traz a nós uma sensação parecida à dela, ao lembrar.

- ... nunca esqueci a gentileza com que fui tratada lá, nunca mais soube nada dessas pessoas, do Senhor educado, inteligente e gentil que me trouxe água. Acredite, nem uma má impressão ficou em mim, mesmo o assalto tendo sido muito violento, apenas ficou em mim que aquelas pessoas foram as mais gentis que conheci em toda minha vida... as da família Jinkings.

Generosamente, Clarinha devolveu-nos a gentileza, proporcionando um momento de doce saudade. Um homem, como a sensibilidade dela captou, educado, gentil, atencioso, justo, generoso, preocupado com o futuro, dedicado à luta por um mundo melhor.

- Contei para meus pais que achei alguém da família do senhor que me ajudou, já fazem mais de 15 anos..., e meu pai me falou... "Uma família que tem por hábito plantar livros, só poderá colher nessa vida boas histórias."

Leila Jinkings

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Raimundo Jinkings: um homem amável.



Depoimentos espontaneos como este que Mayra Jinkings, filha do Álvaro (Valico), são lembranças de um homem gentil, sensível, generoso, lutador e que muito fez pela cultura e pelas conquistas democráticas no Pará. Era meu pai, Raimundo Jinkings.


Mayra, que reside em Paris, deixou o seguinte recado para a vó Isa no orkut.

Vozica, olha o que essa moça me escreveu. Ela me achou no orkut

Há muitos anos fui ao Pará e lá fui assaltada e os homens me machucaram com uma faca, era perto de uma praça, corri pra uma rua e entrei em uma livraria que tinha o teu nome, isso ja faz muitos anos, mas nunca esqueci a gentileza com que fui tratada lá, nunca mais soube nada dessas pessoas, do Senhor educado, inteligente e gentil que me trouxe água.
Acredite, nem uma má impressão ficou em mim, mesmo o assalto tento sido muito violento, apenas ficou em mim que aquelas pessoas foram as mais gentis que conheci em toda minha vida...as da familia Jinkins.
Não tenho certeza se vc é do Pará, da cidade de Belém, mais se for e conhecer algo sobre esta livraria me mande links, emails.
Obrigada.
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sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Meg Homenageando Livreiros e Mestres

Jinkings e Isa com Salomão Laredo e Clara Costa
em debate na Livrariazinha da Jinkings


Uma homenagem aos meus Professores. Todos.

Hoje é o dia Professor!
Há pessoas que não gostam (ou dizem não gostar) dessas datas comemorativas. Eu gosto. E tenho explicado por que gosto.
Bem entendido, eu gosto de datas em que se ‘co-memora’ ou ‘re-memora’ a força pessoal, subjetiva ou coletiva, empregada pelo homem na transformação da espécie humana, do seu ambiente, e no melhoramento da Vida em geral.
Isto tem a ver, suponho, com o que Dostoievski, em os Irmãos Karamazov, aponta:
” Em todo homem, é claro, habita um demônio oculto: o demônio da cólera, o demônio da luxúria sem peias; o demônio do prazer voluptuoso frente aos gritos da vítima torturada…“
Ou seja a luta contra a barbárie, que não cessa de existir e insistir. Penso eu.
Eu também gosto de profissões em que as pessoas dão tanto de si naquilo que fazem que, por metonímia, passam a ser chamadas, como sendo o seu nome, pela profissão que exercem.
Por exemplo, o professor Benedito Nunes, o sábio, meu mestre, meu ‘oriente’, a pessoa que sempre me serviu de norte, antes até mesmo de ele saber, cujo estímulo me permitiu soltar-me das planuras em que habitava e, eventualmente alçar alguns pequenos, mas mesmo assim, vôos.
Pois bem, para mim, para nós, ele é sempre o “Professor“.
Não há dúvidas nem mal-entendidos: o Professor é o professor Benedito Nunes.
Ter que nomeá-lo é falar com estrangeira pessoa. Quem não compreende isso é como se fosse, no offense, tudo cristão novo.
*
Mas também quando penso na data de hoje, 15 de Outubro, eu sinto uma extrema necessidade: eu queria falar de todos os que foram, os que são, aqueles que têm sido e os que - eventualmente - por algum momento em minha vida -pequenina- foram meus “Professores”. Tarefa que receio ser superior às minhas forças, no momento. Mas - como quando não podemos, apenas fazemos - eu queria homenagear todas essas pessoas, de algum modo, e então me ocorreu o seguinte:
Em um trabalho que estou fazendo a duras penas, vocês sabem por que, eu digo/escrevo o seguinte:
“Para a grande empreitada labiríntica que é a de construir uma biblioteca lida (o que é bem diferente dos livros que você tenha - bloody exhibit! - em sua biblioteca) , você, eu, nós, tal como Dante (Alighieri) necessitamos , sim, da sábia condução de um Virgilio ( Publius Vergilius Maro) . E, confesso, também, não posso viver sem um. Não confio em mim mesma a tal ponto que os dispense ou venha a dispensá-los algum dia. Eu os atraio pois necessito deles. Eles me encontram porque, sem saber, talvez, eles pressintam que são necessários para mim. E se forem sábios eles jamais lhe farão imposições. Se não forem sábios, livre-se imediatamente dele(s). Bem, um dia talvez eu lhes conte minhas aventuras de “Alice/Elisa no Labirinto dos Livros Lidos e A Ler”.
Pois é. Eu também gostaria que existisse o dia do Livreiro. Eles são nossos incitadores, condutores, bem , não só eles… mas principalmente eles.
Dos demais, tão importantes, eu falarei quando conseguir, mas sintam-se homenageados, desde agora.
Houvesse um dia do Livreiro e a ‘espécie’ não estaria em vertiginosíssima extinção. O meu Livreiro, o Sr Alberto Abreu da Livraria Padrão já foi até condecorado em terras francesas. Mas quem sabe ainda o que é um ‘livreiro’, se o que temos hoje são livrarias de shoppings?. Ou mesmo quando elas são muito grandes, um shopping dentro de outro?
*****
Com alguma pena e muito orgulho eu digo que tive alguns livreiros: em Belém, o ‘Seu’ Jinkings, adorável pessoa do tempo em que ‘entrei na Faculdade’. Qualquer pessoa sabe ou tem na lembrança quem ele foi e o que representou em Belém do Pará.
Mas também eu já tinha por correspondência, outros altos livreiros: em São Paulo, a D. Maria Antônia, da Livraria Duas Cidades, ah! E no Rio, o ‘meu’ livreiro, o querido, o do coração: o “seu” Alberto da Padrão.
O que é mesmo um livreiro?
Um ser especial. Um livreiro. Espécie em extinção.
Só privilegiados ainda sabem o que significa ser ‘livreiro’. Ter o ‘seu’ livreiro.
Um livreiro é um bibliófilo, quase um bibliólogo.
O meu - Alberto Abreu, dono da livraria Padrão - Editora, é o que sabe minhas angústias, adivinha aquilo de que necessito, antes mesmo que eu esboce, claramente, aquilo de que preciso.
Esclarece minhas dúvidas, corrige-me premissas básicas.
Quando fui convidada pela Funarte, leia-se Adauto Novaes, em 1995, para construir o que nunca havia sido feito antes, uma bibliografia comentada sobre a Literatura Libertina, foi ele quem primeiro me chamou a atenção, para a origem do próprio nome, que a Gramática francesa não registrava, o termo ‘libertino‘, que só surge para classificar o herege, aquele que se opunha ao domínio do saber monástico, que era único, unificador. E foi um termo cunhado por Jean Cauvin (CALVINUS) (1509-1564).
À época dos Enciclopedistas (Diderot, D’Alembert et alii). À sombra da Inquisição.
Só depois, estudando-se a História das Edições é que se vê surgir a dura vida dos escritores como Giorgio BAFFO, que , italiano (veneziano) corria risco de vida para editar na França, etc e etc e talz.. E acho que praticamente, agora, todos sabem.
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Antes havia muitos livreiros. Quase como um psicanalista, ou um sacerdote, o livreiro, verdadeiro xamã, é um especialista em generalidades, como diria Millôr Fernandes. São apaixonados e tudo sabem sobre quase todas as áreas do conhecimento: Filosofia, Direito, Crítica Literária… Sabem tudo o que é publicado no mundo.
Um livreiro é, sim, um xamã: alivia ou agudiza nossas dores, adivinha o que queremos antes que venhamos a precisar. Determina nosso futuro. Duvidam? Então vejam: O Sr. Alberto foi quem me apresentou os primeiros livros de mitologia, sobre a tragédia grega e a “morte” do gênero e isso foi decisivo. Sem mais aquela, ele me disse que eu deveria ler um belo volume do G. Delumeau, a História do Medo no Ocidente e vocês não sabem a revolução que foi isso na minha vida. E ontem, conversando com adorável pessoa, vivi momentos de enleio, relembrando que foi ele que me vendeu o segundo exemplar que tive do ‘Confabulário Total’ de Juan Jose Arreola.
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Agora, o que é necessário dizer é que foi ele quem me apresentou o primeiro livro de Paulo Rónai, com quem eu viria a manter uma breve correspondência, enquanto estive no Brasil, e por quem eu passaria a ter uma admiração infinita. Para o resto da minha vida. Coisa que muitos não entendem, mas…como diria o outro: “Que fazer?”
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Alberto de Abreu Mathias, o 'seu' Alberto da Padrão, começou na antiga Livraria Acadêmica, na Rua São José, centro do Rio de Janeiro que se mudaria depois para a Rua Miguel Couto, 49.
Por trinta e cinco anos lá trabalhou e solidificou a amizade com o Sr. Carlos Griesbach Jr, com quem fundou a Padrão. contando com mais outro sócio, expert em livros raros, o português, Sr. Alberto Lopes Vieira, com um ‘faro’ inigualável para encontrar preciosidades.
Lá, na livraria, eles recebiam Cecília Meireles, Graciliano Ramos, Antonio Houaiss, Paulo Rónai, Plinio Doyle, Edson Nery da Fonseca, Otto Maria Carpeaux, Gladstone Chaves de Melo, Haroldo Maranhão e Benedito Nunes… E os mais novos, a jovem guarda, Antonio Cícero (que foi meu professor - ah! ele é irmão da cantora Marina com quem compõe músicas, ou a Marina é irmã dele, eu o adoro e sei que ele não se importará com essa ordem) e mais Alexei Bueno, Jorge Henrique Bastos, amigo do coração, que, hoje, tendo retornado há pouco de Portugal, onde morou 15 anos (Jorge Henrique, e a nossa entrevista, belo?) é o Editor, da WMartins Fontes, e da Editora Martins; e tantos outros.
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Não, não pensem que aqueles primeiros citados são meus contemporâneos, embora o Sr Alberto seja meu grande amigo. Mas se quiserem, não é? Afinal, eu tenho cerca de 870 anos ;-))
Eu era uma grácil mocinha, em Belém - onde nasci - comecei a ensinar Filosofia na Universidade Federal do Pará e, comecei a me corresponder com várias pessoas a quem hoje homenageio, aqui no Sub Rosa. E creio firmemente que foi a acolhida por carta, sempre benevolente, amável e generosa, que me ensinaria a ser o que “muitas” pessoas chamam de ‘delicada e gentil’. Acho que foi puro reflexo do que recebi. Sempre, ou quase sempre, somos isso, o reflexo do que nos dão.
Quando eu estava me preparando para vir fazer o mestrado na PUC do Rio de Janeiro, escolhi fazer minha monografia sobre a questão do Humanismo. Escolhi Sartre e Heidegger. Mais uma vez ainda, os meus amigos/correspondentes me abriram os olhos para Henri Bergson, Albert Camus, Barthes e Foucault. E Elias Canetti. (Jorge Henrique me deu lições preciosas que nem sei se agradeci a contento. ;-)
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Quando o dinheiro da Bolsa de Estudos da Capes, falhava ou ‘mal dava’ para nossos gastos com locação e locomoção, o seu Alberto da Padrão era um Pai. Cheguei a pagar dívidas de livros com dois anos de atraso!. (Num país com altíssima inflação e que atravessava tantas crises, vocês sequer podem imaginar o que isso significava.) E isso é ter um livreiro. Amizade inabalável. E depois, levianamente, as pessoas falam em poder. Poder, meus filhos, é isso. Pelo menos o que eu anseio, e tem a ver com o supremo poder, contido na referida citação de Dostoievski.
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Não saberei dizer mais nem melhor da importância dessas pessoas em minha vida.
Elas fizeram de mim o ser que sou hoje.
Se as pessoas me acham gentil (o que na verdade não sou), -alguns até reclamam de eu ser gentil, sem necessidade ou … bem, se sou, é porque precisavam ver e saber, com quanta gentileza e generosidade, fui tratada quando me determinei a conhecer, a aprender tudo o que pudesse. Sempre e mais.
A todos quanto devo essa empreitada interminável, em que incluo tanto o meu Pai, até a quem me ajuda quando grito, pelo blog, Socorro, preciso de ajuda, e aquelas que me orientam por email, quando eu grito por ajuda! eu agradeço, na pessoa de Alberto de Abreu Mathias, que hoje, com muitos anos, ainda mantém o mesmo vertiginoso entusiasmo.
Um livreiro por inteiro, na livraria em tempo integral (mesmo contra a vontade da filha e dos netos). Seu Alberto que foi homenageado há alguns anos na Bienal do Livro em Paris. Que foi homenageado pela Academia Brasileira de Letras, mas o que é importante mesmo: ele recebeu a medalha “JOÃO RIBEIRO”. Por acaso você tem idéia de quem foi, João Ribeiro? Pois é! Que não atende só os professores e intelectuais…Ajuda os livreiros iniciantes, novos na profissão (pouquíssimos, como o Araken da Livraria Contracapa) atende clientes ilustres ou não, com o mesmo amor, empenho e dedicação. Que também lhe fizeram belíssima homenagem: um livro com a homenagem de todos os que são representativos no mundo das Letras e dos Livros. Uma iniciativa dos filhos (Ana Abreu, à frente) e netos
Sua filha Ana Abreu segue-lhe os passos. E vejo hoje o mesmo amor aos livros e aos leitores, em seu neto André.
Eu me sinto especial e sinto que a VIDA me deu um presente , que me torna orgulhosa e (me) creio ‘distinta’.

Postado por Meg em 2007, no Blog Sub Rosa

beijo, Meguita.
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quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Ziraldo na Livrariazinha da Jinkings

Raimundo Jinkings, Isa Jinkings, Vilma Alves,
Tathagato (como Menino Maluquinho) e Ziraldo

Uma das várias visitas de Ziraldo à Livrariazinha da Livraria Jinkings.

Desta vez, ele se fez acompanhar da saudosa Vilma, de quem hoje é viúvo.

Ficaram alguns dias e Jinkings e Isa os levaram para conhecer o Marajó e

outros encantos do Pará.