terça-feira, 13 de novembro de 2007

Miséria Humana, artigo do R.A. Jinkings

MISÉRIA HUMANA
Por Raimundo Jinkings


Quando passamos pelas ruas de Belém, principal­mente a João Alfredo, deparamos com um grande número de seres humanos que, certamente, já tiveram lar, já trabalharam, já produziram e já contribuíram com a parcela de seus esforços para o progresso de nossa Pátria, do nosso Estado, e para o enriquecimento de alguns privilegiados da sorte e do regime, mas que hoje estão transformados em verdadeiros farrapos humanos, jogados nas calçadas, submetidos ao sol e à chuva, sujeitos a toda sorte de misérias, comendo aquilo que o diabo enjeita, desprezados por tudo e por todos, humilhados pela própria sociedade. Esses mesmos homens que, sem dúvida, sonharam ter na velhice uma vida tranqüila, sem privações, digna dos que traba­lham e que produzem, viram seus esforços e seus ideais vencidos pela ambição insaciável dos ricos e pelo descanso dos governos. Triste realidade!
Quanto é triste e doloroso saber que dentre esses mendigos, que estão jogados ao léu, ostentando suas chagas físicas ao lado das rebrilhantes exposições de jóias, há um jovem que esteve na última guerra, lutou e sacrificou-se pela prometida liberdade e fraternidade dos povos. Esse in­feliz idealista voltou da guerra, doente, inutilizado para o resto da vida, mas cheio de esperanças, na certeza de que havia contribuído para a conquista do mundo com que so­nhara. Ao regressar, não desejava mais do que a Paz para o mundo e o necessário para sua subsistência. Entretanto tudo lhe foi negado. Os homens, que lhe prometeram vida melhor, esqueceram-se do compromisso, e estão agora gozando as delícias das fortunas conseguidas à custa da miséria do Povo durante a guerra, desse mesmo Povo de quem foram exigidos o sangue, o trabalho e o sacrifício, pa­ra defesa da Paz e da Democracia, dessa Paz e dessa Democracia que ainda não conhecemos.
Não poderá haver Democracia e nem poderá haver Paz enquanto assistirmos a cenas dolorosas como essas, e enquanto não acabarmos com os privilégios vergonhosos dessa estranha fauna dos capitalistas. O que precisamos é de justiça, mas a justiça só é perfeita, só é justiça de verdade quando é feita igualmente para todos, sem distinção condições sociais, de raças ou de cor. São do grande Simon Bolívar estas significativas palavras: "Conservai intacta a lei das leis: a igualdade. Sem ela perecem todas as liberdades, todos os direitos". Quão verdadeiras são essas palavras que, lendo-as, acreditamos com toda a sinceridade que um dia haveremos de dar ao nosso Povo aquilo que não nos é possível dar-lhe no regime capitalista: a igualdade econômica e social. No próprio Estados Unidos, o país capitalista mais rico do mundo, existe a fome e a miséria, consoante apuração feita em 1939, dos 30 milhões de famílias norte-americanas 8 milhões morreriam de fome se o governo não as socorresse, e 11 milhões lutariam contra a miséria. Referindo-se a essa estatística, o líder nacional do Partido Socialista, o eminente Dr. João Mangabeira, com precisão: “Tudo isso demonstra que ainda no país mais rico do mundo, o regime capitalista não pode resolver o problema da fome e da miséria".
O problema da pauperização em nosso Estado do governo imediatas providências medidas concretas benefício do Povo, com o objetivo de acabar com essa si­tuação difícil e desmoralizante.
Nem a mais santa das intenções resolve em contrário.
Lembrem-se de Fauchet na convenção da grande Revolu­ção Francesa:
"Considerando que a igualdade não deve ser uma miragem enganadora que todos os cidadãos inferiores, velhos órfãos indigentes, sejam albergados, vestidos e alimenta­dos à custa dos ricos; os sinais da miséria sejam destruí­dos, a mendicidade e a ociosidade sejam proscritas; que se dê trabalho a todos os cidadãos válidos".
Que adiantou? Nada. A questão, evidentemente, não é de sonhar. Ou o governo se mexe, ou o Povo virá a fazê-lo por suas próprias mãos inevitavelmente, de modo violen­to.
Há o caminho da construção socialista, pacífica, e há o caminho que garante sucessos, como os acontecimentos do Rio Grande do Sul estão a indicar. Escolha o governo a solução enquanto ainda lhe resta um pouquinho de tempo.

Folha, 10/08/1952
(Reproduzido no livro Entre as Letras e as Baionetas, de Jocelyn Brasil, pp. 179 a 181).

domingo, 11 de novembro de 2007

Camuflagem

Kung Fu Lounge
Friday, November 19, 2004

O filho do rato
Alejandro Jodorowsky é o cara. Eu tinha uns nove anos quando meu pai me levou à livraria Jinkings e disse para eu escolher o que quisesse. Fui direto à sessão de quadrinhos.

Em plena Ditadura, o velho Jinkings contrabandeava livros de esquerda em meio a caixas de insuspeitos quadrinhos europeus publicados em Portugal. O cara tinha as manhas. Enfiava traduções em espanhol e português de livros do Marx, Engels, Trostky e Mao no meio de álbuns de gente como Moebius, Druillet, Phillipe Caza, Enki Bilal, Quino, Palomo, Plantu e outros grandes nomes das HQs do Velho Mundo.
Meu pai comprava os Marx e companhia. Eu ficava com os quadrinhos. Coisa que, aliás, fez eu desenvolver um dialeto meio esquisito com o passar do tempo de tanto ler histórias naquele português estranho. Foi numa dessas idas à livraria do Jinkings que peguei para folhear um álbum de capa amarela: O Incal Negro - Uma Aventura de John Difool. Não fazia idéia do que era um Incal, mas o livro vinha com o nome de Moebius na capa, que eu curtia das séries Tenente Blueberry e A Garagem Hermética. Foi o suficiente para levá-lo para a casa. E junto com Moebius acabei levando também Alejandro Jodorowsky. As coisas nunca mais foram as mesmas. Mesmo para uma criança habituada às maluquices da turma da Metal Hurlant Jodorowsky era um pouco demais para mim com sua visão cínica e absurda do mundo. Tudo o que fez com Moebius na série do Incal ficou na minha cabeça, da mesma forma que, anos mais tarde, ficariam Thomas Pynchon, Alan Moore, Frank Zappa e Phillip K. Dick. Revendo El Topo essa semana, deu para entender porque esse foi o filme que levou os irmãos Cohen a se meter com cinema e fez com que John Lennon e Yoko Ono inaugurassem uma sessão da meia-noite em Nova York só para exibi-lo.

Em homenagem ao cara, republico aqui uma entrevista que fiz com ele em 2000. Kung Fu Lounge

- posted by Vladimir Cunha @ 8:45 PM

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Lauande homenageia Jinkings

13 de Dezembro de 2006
AI-5: de sorumbática memória

Sempre que chega 13 de dezembro eu lembro do meu amigo e camarada Raimundo Jinkings. Não tem jeito, sempre lembro dele!!! Hoje é um dia que a liberdade perdeu vez nesse país quando da edição do Ato Institucional Nº 5 foi consumada pelos militares em 1968. e todo ano eu escrevo sobre AI-5 pra mostrar minha indignação contra as facetas autoritárias no mundo da política.

Sempre digo que a liberdade é o bem mais precioso que o ser humano almeja. Por isso a humanidade, ao longo dos séculos, tem lutado continuamente no sentido de garantir esse direito a todos. Um marco desses avanços ocorreu com as revoluções americana e francesa, que levantaram a bandeira dos direitos humanos e a autonomia dos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Essa evolução se dá entre avanços e recuos por conta de períodos ditatoriais vivenciados pelas nações. Em nosso país, uma noite de trevas se abateu a partir de 13 de dezembro de 1968, quando, com a edição do Ato Institucional nº 5 (AI-5), todas as garantias do cidadão foram suprimidas. Trinta e cinco anos depois nós precisamos recordar esses acontecimentos para que nunca mais a ditadura prevaleça.

O Brasil passou por dois períodos ditatoriais no século 20: no Estado Novo (1937-1945) e no regime militar (1964-1985). Neste último período alguns fundamentos democráticos foram preservados em seu início e no final. No entanto, entre dezembro de 1968 e dezembro de 1978, época em que vigorou o AI-5, vivemos sob a lei do arbítrio. Coincidentemente, nesses dez anos, foi registrado o maior número de execuções sumárias e de desaparecimentos de políticos em toda a nossa história.

Em 1968, o mundo viveu como nunca uma efervescência política e cultural que abalou as instituições vigentes. No Brasil, isso também se materializou com protestos estudantis, greves operárias, rebeldia parlamentar contra a ditadura e um maior envolvimento da Igreja Católica nas questões sociais. A resposta dos militares foi o recrudescimento da repressão, que culminou na decretação do AI-5 pelo presidente da época, o general Costa e Silva.

Por força desse decreto, foram fechados o Congresso Nacional e as Assembléias Legislativas Estaduais; cassados mandatos de parlamentares; suspensos os direitos políticos de oposicionistas; juízes e funcionários públicos foram demitidos ou aposentados compulsoriamente e suspenso o habeas corpus. Paralelamente, nos porões do regime intensificaram-se a tortura, os assassinatos e outros desmandos. Muitos de nossos maiores pesquisadores e professores universitários tiveram de partir para o exílio. Nossos dois últimos presidentes da República foram vítimas dessas arbitrariedades.

Nesse período, a população não podia votar em presidente, governador, prefeitos das capitais e de cidades consideradas de segurança nacional. A censura à imprensa e aos espetáculos culturais impedia que qualquer fato considerado "indesejável" aos governantes fosse divulgado. Chegou-se ao absurdo de impedir que fosse noticiada a existência de uma epidemia de meningite em São Paulo. Nem mesmo os religiosos foram poupados. Padres e freiras foram presos e torturados. Alguns deles, estrangeiros, acabaram deportados. Estudantes eram expulsos das faculdades sob qualquer acusação.

Até hoje as chagas desse período tenebroso afetam as próprias vítimas ou seus familiares. Felizmente, graças à mobilização popular, principalmente na campanha Diretas Já, a plena democracia voltou a brilhar em nosso país a partir de 1985 e se consolidou em 1988 com a promulgação de uma nova Constituição, que garante em seu artigo 5º "a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade".

Como amigo do Jinkings e militante comunista, luto com milhares democratas constantemente para garantir o respeito às opiniões contrárias e fortalecimento da democracia, o melhor regime entre todos. Que atitudes de prepotência e práticas ditatoriais fiquem apenas nos livros de história e nunca mais se repitam em nossa terra.

E muitas saudades do meu amigo e camarada Jinkings!!!
Aquele abraço,
Lauande.

Blog do Lauande
Perfil do Lauande segundo ele mesmo:
41, casado, sociólogo, professor, comunista, produtor rural e bicolor.
Faleceu em 28 de julho de 2007.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Jinkings por Isa

Raimundo Antônio da Costa Jinkings nasceu, em 05 de setembro de 1927, no que era na época um pequeno povoado, Curumim distrito do município de Santa Helena, banhado pelo rio Turiaçu, no Maranhão. Teve infância pobre, trabalhou desde menino, aprendeu diversos ofícios enquanto aprendia, com o pai, as primeiras letras. Mal entrava na adolescência quando, na sua avidez de saber, em meio aos pertences de seu pai, descobriu e leu o livro do filósofo alemão Schopenhauer, “As dores do mundo”. Estranho e inexplicável: através de que meios teria ido parar Schopenhauer naquele cantinho do mundo?.

Aquela leitura foi o prenúncio de um vida que, toda ela, seria dedicada a lutar exatamente contra as dores do mundo, contra a injustiça, pela liberdade. Sua paixão pela liberdade o conduziu ao Socialismo. E seu coração o prendeu, aos 21 anos, a uma menina de 15, uma linda história de amor que sobreviveu a todos os golpes que a vida lhes desferiu (tantos!) durante 46 anos de absoluta cumplicidade.

Os cinco filhos que esse amor gerou cresceram, felizes, e formaram suas famílias. E a grande família , hoje acrescida de quatorze netos e um bisneto, guarda um troféu que é seu tesouro; a grandeza e a dignidade que herdou com o nome, JINKINGS, sua história, seu exemplo.

Sobrevivendo às prisões e à perseguição sem tréguas, quando lhe tiraram tudo, até os direitos políticos, recomeçou do nada e, com a companheira Isa e os cinco filhinhos Nise, Leila, Toninho, Álvaro e Ivana, em 1965 plantou a primeira semente da Livraria Jinkings, e bem a seu modo continuou semeando a cultura e a esperança, lutando serena e corajosamente contra as dores do mundo... naqueles terríveis momentos, Jinkings e sua mulher também receberam a força da solidariedade, sem fronteiras, de suas duas famílias, de seus amigos, até mesmo dos que se encontravam fisicamente distantes.

Esse bravo, esse extraordinário guerreiro que foi vencendo, uma a uma, tantas batalhas, foi cruelmente abatido pela última delas.

E então, num pedacinho de terra, ele próprio se tornou SEMENTE...


Esse texto foi postado por Isa Jinkings no sítio da Livraria Jinkings.

domingo, 4 de novembro de 2007

Velhos Camaradas

Jinkings um exemplo de paraense
por Pedro Ayres

Há gente que permanece viva, pela memória e pelo simples fato de que durante toda vida construiu a verdadeira imortalidade. A da obra realizada, a do afeto, a do companheirismo, pelo profundo amor às coisas da nossa terra e do país. Tudo isto e mais um pouco definem a vida de Raimundo Antonio da Costa Jinkings, amigo e companheiro de velhas batalhas.
Conheci o Jinkings no Partidão, em que ambos militávamos. Ele, voltado para a organização sindical e trabalhadora. Eu, junto com Chico Costa, seu irmão Raimundo, Nelito e outros tentávamos dar forma e conteúdo ao Partido no movimento universitário. Desse modo, como tínhamos a visão de unir todos os movimentos num só organismo, com vistas a um futuro mais democrático e participativo para as amplas massas do país, conseguimos construir algo que era sonhado por todos os grupos de esquerda do país, mas que nunca saía do papel, uma efetiva e real Frente Operária-Estudantil-Camponesa.
Naquele período Belém sofria com constantes falta de eletricidade. Era um problema da capital e do Estado, tanto que candeeiros e lamparinas faziam parte dos utensílios de qualquer casa. Se havia alguma diferença social entre esses úteis objetos, ela ficava adstrita aos materiais de feitura, aos desenhos e aos tamanhos. Uns lembravam a Belle Époque, outros, mais modernos, traziam a marca do ecletismo e do neoclássico. Enfim, com estilo ou sem estilo a falta de luz a todos atingia.
O Governador do Estado, Aurélio do Carmo, era um democrata convicto, tanto que a despeito das tendências atrabiliárias e de direita do corpo policial paraense, conseguia garantir que os movimentos populares tivessem seu curso. A luta nacionalista se acirrava no país todo. Nós, pressionados pela carência energética, defendíamos a solução por meio de pequenas hidrelétricas distribuídas regionalmente. Grupos do governos estadual e federal queriam termelétricas, fornecidas pela ITT, a famosa Bond and Share.
Humberto "Vovô" Lopes, Jocelyn Brasil, Serrão, Bené Monteiro e Jinkings eram a base de nosso comando partidário, sendo que ao Raimundo, por sua inconteste liderança sindical, coube a tarefa de coordenar a área operária e camponesa. Como a correlação de forças políticas era bem desfavorável às nossas teses, escolhemos fazer uma greve para pressionar. Tudo correu bem, tanto que até tivemos uma reunião pública com o Governador Aurélio do Carmo, que nos assegurou que iria estudar a nossa proposta. Uma proposta respaldada em estudos do economista Moacyr Paixão. Porém, no frigir dos ovos, com o advento da "redentora", tudo foi feito como queriam as multinacionais.
Esse ineditismo de movimento e de sucesso, pois, bem ou mal, tínhamos realizado o que desejávamos, mais tarde veio a se voltar contra todos nós. Não porque pudéssemos ou tivéssemos condições de outras grandes atividades, mas, pelo medo que causou na direita golpista do Pará e da região. Ficamos tão envolvidos com a sensação de vitória que a Campanha da Legalidade de Brizola criou que nem nos apercebemos do inimigo ao nosso lado. Um inimigo que até posava de nacionalista.
Certo dia, ínicio de 62, Belém é sacudida com a notícia de que agentes do DOPS tinham invadido o Sindicato dos Petroleiros e descoberto um formidável plano para criar núcleos guerrilheiros no Pará e na região. Como sabíamos da íntima ligação entre o serviço secreto do exército e o DOPS pensávamos que era mais uma espécie de atualização de cadastro. Uma atualização muito livre e aberta, em que gregos, troianos e até espartanos entravam na lista. Com a publicação do "dossier", um documento que nunca fez justiça ao talento ficcional de seu autor, mais voltado para terras encharcadas, descobrimos que os objetivos eram: imobilizar, atemorizar e desmobilizar a todos nós, além, é claro, de fazer média com os agentes da CIA que já andavam por lá às mancheias.
O principal alvo era o Partidão e suas lideranças mais jovens, como o Jinkings, Bené Monteiro e alguns outros. Segundo o coronel Jefferson Cardim, na época chefe do Estado-Maior da 8ª Região Militar, tudo tinha sido elaborado por um major da Segunda Secção, que trabalhava a paisano numa estatal. Processos foram abertos, entretanto, não posso dizer se houve ou não inquéritos legais, pois, nunca soube de ninguém que tenha sido ouvido. Mas, também, pouco importava, o Golpe veio logo em seguida e os nossos pesadelos se tornaram realidade.
Foi a partir de 1962, quando fui enviado para o Rio, que perdi o contato com Jinkings, só sabia dele por intermédio do Jocelyn ou do Humberto. Entretanto, na década de 1970, tornou-se o representante, correspondente e distribuidor do jornal "Crítica", do qual era comentarista de política internacional e assim, mesmo indiretamente voltamos a nos encontrar.
Este Blog embora honra e homenageie o Raimundo Antonio da Costa Jinkings, também rende homenagem a figuras como Serrão de Castro, Levy Hall de Moura, Acácio e Jocelyn Brasil. A todos a minha homenagem, o meu sincero agradecimento pelas lições e pela amizade que desfrutei.

Blog do Pedro Ayres
Sexta-feira, 2 de Novembro de 2007

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Blog do Alencar: uma homenagem

Um Link Para Jinkings

A partir de agora tem um novo link aí do lado direito do blog. É um link para Jinkings.Conheci Raimundo Jinkings em meados da década de setenta do século passado. Eu, um jovem bancário recém-chegado de Marabá - PA, onde havia iniciado carreira no Banco do Brasil. Ele, um ex-bancário do Banco da Amazônia, com os direitos políticos cassados pela ditadura militar, iniciava uma nova e vitoriosa carreira como livreiro enquanto soprava as brasas que haviam sobrado do velho Partidão, também destroçado pela mesma dita cuja.A livraria era pequena e funcionava no porão da sua residência, na Tamoios, em Batista Campos. Pequena mas de qualidade. Tudo o que era importante e necessário para quem buscava conhecimento era ali que encontrava. O acervo - um tanto caótico - ele dominava, título por título. Ele era um livreiro que lia os livros que vendia. Os frequentadores formavam um grupo eclético, heterogêneo mesmo. Tinha estudantes, professores, juristas, bancários, médicos, militares reformados e da ativa, de esquerda e de direita, liberais, cristãos, agnósticos, evangélicos, todos se encontravam ali. O Coronel Oliveira, o famoso Peixe Agulha, era um habitué. Octavio Mendonça era outro. Cruzava com eles e ficava observando o diálogo que travavam com aquele comunista convicto, sincero, simpático, sereno e gentil com seus clientes.
A livraria cresceu e não coube mais no porão. Os negócios iam bem e o ambiente político melhorava. A livraria tornou-se uma grande livraria, moderna, com o nome dele em concreto aparente dominando a fachada inteira. Foi a primeira livraria projetada especialmente para esse fim. Até hoje é assim. Os clientes entram passando por dentro da legra G. Digamos que esse é o ponto G da Jinkings.
Tornei-me também habitué da livraria, sempre aos sábados, quando havia uma confraternização não programada e não declarada dessa rica fauna dos clientes do Jinkings, todos irmanados pelo amor aos livros. Eu comprava livros de direito, economia, política, filosofia, história e as últimas novidades do marxismo, muitas delas vindas da União Soviética. Conversa vai, conversa vem, anistia e redemocratização convivendo com atentados, Jinkings começa a reorganizar o Partidão. A convite dele e de Mariano Klautau, entrei para o partido, filiando-me formalmente ao MDB, que logo se tornaria o PMDB.Em um certo momento, Jinkings e Carlos Sampaio decidiram editar e publicar um livrinho com textos de Mao, que ainda era Tsé e também Tung. Para isso constituiram uma editora a que deram o poético nome de Boitempo.
Os filhos e as filhas de Jinkings cresceram, deram-lhe netas, netos e, salvo engano de minha parte, bisnetos. A Boitempo é uma filha legítima de Jinkings, que graças a uma outra filha de carne e osso tornou-se uma editora bem sucedida, conhecida e reconhecida em todo o país e mesmo fora dele.
Agora, pela Internet, Leila Jinkings manda avisar que tem um blog para homenagear Raimundo Jinkings.
Obrigado, Leila.Não ficaria fora desse de jeito nenhum.
Por isso homenageio Raimundo Jinkings abraçando-o com este link aí do lado e convidando os leitores deste blog para visitá-lo.
Valeu, Leila!
Valeu, camarada Jinkings!

1 de Novembro de 2007 09:42