domingo, 16 de maio de 2021

Diccionario biográfico de las izquierdas latinoamericanas





  JINKINGS, Raimundo Antonio da Costa (Santa Helena, estado do Maranhão, Brasil, 5/09/1927 – Belém do Pará, estado de Pará, Brasil, 5/10/1995).

Foi um editor, livreiro, jornalista, sindicalista e dirigente comunista brasileiro.

Nascido em 5 de setembro de 1927 no município de Santa Helena (área rural do Maranhão), proveniente de uma família de origem humilde, Jinkings passou a infância em seu vilarejo natal, onde ajudava o pai cuidando do rebanho de bois e cabras. Além disso, também levava mercadorias para a mercearia do progenitor em Pinheiro, localidade próxima onde viviam duas tias que pouco depois o acolheram em casa no início da adolescência. Lá estudou e trabalhou como ajudante de alfaiate e de sapateiro. Aos 17 anos, mudou-se para a capital do estado, São Luís, cidade em que exerceu a atividade de vendedor numa loja de tecidos, ao mesmo tempo em que dava continuidade aos seus estudos numa escola noturna.

Decidiu viver em Belém (Pará) em 1945, aos 18 anos de idade, alistando-se na Força Aérea Brasileira (FAB). Com o término do serviço militar, já com a patente de cabo, trabalhou como enfermeiro no hospital da Aeronáutica. Em 1950, passou no concurso para o Banco de Crédito da Amazônia, que mais tarde mudaria de nome para Banco da Amazônia, também conhecido como BASA (no qual ingressou como escriturário em 1951), formou-se no ginasial e foi eleito secretário-geral do Partido Socialista Brasileiro (PSB) no Pará (ele foi um dos fundadores daquela agremiação no estado, junto com jornalista, professor e advogado trabalhista Cleo Bernardo de Macambira Braga). O passo seguinte foi entrar para o tradicional “Colégio Estadual Paes de Carvalho”, com o objetivo de cursar o secundário.

O ano de 1952 foi importante para o jovem dirigente socialista, já que teve atuação destacada na luta dos bancários; como organizador do I Congresso Regional Norte de Defesa do Petróleo (vinculado à campanha “O petróleo é nosso”); e como periodista, escrevendo matérias polêmicas em publicações como Folha do NorteFlash Estado do Pará (Jinkings foi o primeiro jornalista condenado por crime de imprensa no Pará, por denunciar a corrupção do delegado geral do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) no estado, Moacir Santiago; após apelação, foi absolvido por unanimidade, saindo do julgamento carregado pelos amigos). Era comum vê-lo fazendo discursos em praça pública e em portas de fábrica naquela época. Casou-se com Maria Isa Tavares em 1953, a quem conhecera quatro anos antes.

Nesse período, matriculou-se na escola técnica “Fênix Caixeiral Paraense” e liderou, junto com Cléo Bernardo, a campanha “Marcha da Fome”, lançada por seu partido e reprimida duramente pelas autoridades policiais. Por causa disso, foi preso e processado pelo DOPS.

Em 1955 voltou ao Maranhão a trabalho, transferido para uma agência de seu banco na capital, onde assumiu a gerência (uma mudança imposta pelo presidente licenciado do BASA, Gabriel Hermes, como punição, por Jinkings tê-lo denunciado, num artigo de muita repercussão, por crime eleitoral). Como o PSB não estava instalado naquele estado, ingressou no mesmo ano no Partido Comunista do Brasil (PCB). Sua casa seria usada na época como “aparelho” para militantes que realizavam viagens a São Luís por motivos políticos.

O XX Congresso do PCUS, em 1956, certamente não passou despercebido por Raimundo Jinkings, que, mesmo estando ciente das acusações contra o legado de Joseph Stálin e o “culto à personalidade” avaliou que a atitude de Nikita Kruschev teria favorecido o imperialismo em sua tentativa de atacar o Movimento Comunista Internacional. Ele reconhecia todas as conquistas sociais soviéticas e achava que elas, certamente, poderiam ser aperfeiçoadas, mas acreditava que jamais se deveria permitir a destruição da URSS (em 1991, ele ficaria profundamente abalado com a dissolução do país).

Em 1959, retornou a Belém. Aquele ano foi emblemático, já que marcou o triunfo da revolução cubana. Como milhares de jovens latino-americanos, Jinkings também se encantou com a epopeia dos barbudos do Movimento 26 de Julho e admirou dirigentes como Fidel Castro e Che Guevara (ele criaria, posteriormente, o grupo “Amigos de Cuba”, para prestar solidariedade à ilha e também defenderia as lutas de libertação nacional na África e a revolução dos cravos em Portugal). No Brasil, por sua vez, durante o processo eleitoral que culminou com a vitória de Jânio Quadros, apoiou o general Henrique Teixeira Lott para presidente e João Goulart para vice.  Jinkings se tornou presidente do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) e secretário sindical do PCB.

Depois do golpe militar em 1964, Raimundo Jinkings (considerado pela ditadura como “o cabeça da subversão no Pará”) foi obrigado a se esconder durante um mês em residências de parentes, até negociar os termos de sua entrega à polícia, sendo imediatamente levado à prisão. Durante os “anos de chumbo” foi encarcerado em diferentes ocasiões, respondeu a diversos Inquéritos Policiais Militares (IPMs) e teve seus direitos políticos cassados (por causa de dificuldades financeiras, ele chegou, inclusive, a trabalhar como feirante na Praça Batista Campos, em Belém).

Dentro do partido, esteve próximo do grupo de dirigentes que contava com nomes como Horácio Macedo, Ivan Pinheiro e Juliano Siqueira. Ainda que admirasse a experiência cubana, posicionava-se contra a luta armada no Brasil (a linha oficial de seu partido), o que não impedia que sentisse profundo respeito pelo futuro fundador da Ação Libertadora Nacional (ALN) Carlos Marighella e de ser amigo de vários guerrilheiros naquele período (também foi admirador de Francisco Julião e das Ligas Camponesas, demonstrando contínuo apoio à luta pela reforma agrária).

Jinkings destacar-se-ia, ainda, como livreiro. A relação com os livros vinha da infância e adolescência. Aos 14 anos, leu As dores do mundo, do filósofo alemão Arthur Schopenhauer, obra que o marcou profundamente. Ao longo dos anos, passou a apreciar autores brasileiros como Lima Barreto, Graciliano Ramos, Monteiro Lobato, Raquel de Queiróz e Jorge Amado, assim como estrangeiros, como Máximo Górki, León Tolstói, Vladimir Maiakovski, Jean-Paul Sartre, Karl Marx, Friedrich Engels e V. I. Lênin (destes três últimos possuía as obras completas). No final da vida, a biblioteca pessoal de Jinkings contava com aproximadamente 10 mil exemplares.

Sua relação com editoras do Sul do país (como Brasiliense, Fulgor e Civilização Brasileira), assim como sua amizade com homens de letras, militantes e publishers da envergadura de Caio Prado Júnior e seu filho Caio Graco, certamente o impulsionou na nova atividade, fazendo com que inaugurasse em 1965, ao lado de Isa, a icônica Livraria Jinkings, que logo se transformou em um dos mais importantes centros de cultura e debates de Belém, além de possivelmente a principal livraria da região Norte do país. Diversos escritores conhecidos lançaram obras lá, entre os quais, Ziraldo, Milton Hatoum, Lígia Bojunga, Alfredo Oliveira, Rui Barata, Salomão Laredo e Max Martins. Isso não impediu que o local fosse recorrentemente visado pela ditadura e que chegasse a sofrer atentados (a fachada da livraria foi, inclusive, metralhada em certa ocasião). Ela se tornou um ponto de encontro da intelectualidade progressista da região e local onde, mais tarde, se realizariam reuniões da Frente Democrática de Oposição (FDO), fundada por ele em 1982, e da Sociedade Paraense dos Direitos Humanos (SPDH), os principais grupos que articulavam a luta pelas “Diretas já” naquele estado (época em que Jinkings era o editor do jornal Resistência).

Em 1974, a convite do PCC, ele e a esposa foram a Cuba (na década seguinte, Jinkings viajou novamente a Havana, desta vez para participar de uma conferência internacional sobre a dívida externa, um evento no qual teve destaque a presença de Luiz Carlos Prestes); em 1987, Raimundo esteve na União Soviética acompanhado de Isa (onde permaneceram por três semanas), ambos agraciados pelo PCB por terem sido campeões de venda de assinaturas do jornal Voz da Unidade em todo o país; e em 1994, ele recebeu o prêmio “Livreiro do Ano” (outorgado pela Associação Nacional do Livro), como reconhecimento da importância de seu trabalho. Jinkings também criou, com os colegas Carlos Sampaio e Amado Tupiassu, a primeira Editora Boitempo, que lançou livros de dirigentes e intelectuais marxistas como Mao Tsé-tung e Ho Chi Minh. A editora, por diferentes motivos, teria curta duração.

No início dos anos 1990, combateu o grupo “liquidacionista” encabeçado por Roberto Freire, que pretendia dissolver o PCB, apropriar-se de seu símbolo e de sua bandeira, assim como mudar seu nome para Partido Popular Socialista (PPS). Jinkings foi um dos que lutaram para a preservação da sigla e apoiou o início de sua reconstrução.

Raimundo Jinkings faleceu em 1995, aos 68 anos de idade. Ivana Jinkings (a caçula de cinco filhos), naquele mesmo ano, fundaria a nova Boitempo, que se tornaria uma das mais importantes editoras de Ciências Humanas do país.

Cómo citar esta entrada: Pericás, Luiz Bernardo (2021), “Jinkings, Raimundo”, en Diccionario biográfico de las izquierdas latinoamericanas. Disponible en http://diccionario.cedinci.org

http://diccionario.cedinci.org/jinkings-raimundo/


terça-feira, 25 de setembro de 2018

O comunista motoqueiro, a sopa de letrinhas e gratidão


O comunista motoqueiro e a sopa de letrinhas

Karina de Oliveira Leitão







Nesse tempo de ódio à foice e ao martelo, meu coração quase se desfaz em pedaços.
As declarações de ódio à esquerda, aos comunistas, aos petistas, não me fazem raiva, me tiram as forças, me tiram a alegria, me tiram a vontade de argumentar.
Nesse fim de semana, um grupo de kamaradas da Peabiru TCA me deu o privilégio de entender isso. Numa sessão de balanço para eles, eu acho que vivi uma regressão, uma oportunidade única de entender o meu passado e as raízes do meu amor pelos comunistas, pela esquerda.
Minhas irmãs e eu tivemos praticamente todos os nossos livros didáticos doados por uma família linda e grande de queridos comunistas, que durante um tempo, foi a minha família. E hoje, é um farol de afeto que ainda ilumina o meu olhar. E enche a minha estante com livros que agora eu felizmente posso comprar.
Essa mesma família tem um membro, o comunista motoqueiro, que se encarregava desse cuidado. Esse membro não se preocupava se a gente estava só comendo letras. Ele também chegava com comida quando a gente menos esperava. Também levava para passear quando sabia que as crianças deviam estar confinadas em casa nas férias. O motoqueiro e seus irmãos aprenderam com o pai e a mãe a cuidar dos outros. Na minha fantasia, eu acho que eles se dividiam para cuidar da cidade toda, cada um se encarregava de um pedacinho.
E assim, em primeiro lugar, eu aprendi que os comunistas alimentam criancinhas com letrinhas, para depois ouvir a farsa nauseante de que eles comiam criancinhas.
E a Livraria Jinkings, na Rua dos Tamoios em Belém do Pará, parecia o paraíso. As letras de concreto que ornavam a fachada davam um ar de modernidade que nenhum lugar da cidade jamais teve, jamais terá.
Era tanta coisa para agradecer a cada vez que o ‘agente’ comunista nos chamava no início do ano letivo para levar a lista anual dos livros e buscar os que eles podiam doar, que acho que eu nunca consegui dizer obrigada.
Eu ficava grata, envergonhada, e ao mesmo tempo, encantada com aquelas mesas e estantes de livros, sonhando em engolir cada um. Eu tinha curiosidade por tudo, pelos lançamentos nas mesas logo à entrada, pelos livros amazônicos que nem na escola eram mencionados, mas a sessão infantil, mais ao fundo da loja, era um universo que parecia fora do meu alcance. De quantas vidas eu precisaria para dar conta de ler tudo aquilo? Mais ao fundo da loja, lá no depósito, trabalhava o meu tio. O meu tio mais próximo, mais tímido, mais introspectivo, que se não fosse a família de comunistas, dificilmente conseguiria ter tido um emprego formal na vida, nem teria guardado e usado todo o dinheiro que juntou na vida para os sobrinhos. Esse tio, era tio de sangue, era ateu, e assim, eu que nasci numa família mariana e franciscana, aprendi que os ateus são bons... E que os religiosos não têm o monopólio da bondade. Mas essa já é outra história.
__________________

Nota minha: Muito nos comove o texto de Karina, como comunistas que somos e, principalmente, pela família que formamos.

Muito obrigada, querida Karina, pelo belo texto e pela sensibilidade que ele exibe, além do belo e raro sentimento de gratidão.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Caravana da Anistia

 92ª Caravana da Anistia, realizada pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça em Belém do Pará, em parceria com a Comissão Estadual da Verdade, Comissão de Direitos Humanos da OAB-PA e Comissão de Direitos Humanos da Alepa, apoiadas pelo Governo do Estado e UFPA



Na 92ª Caravana da Anistia, Raimundo Jinkings recebeu as homenagens viabilizadas pela Comissão da Anistia, juntamente com outros companheiros da luta de resistência à Ditadura. Foi representado por Isa Jinkings, a companheira de vida. 

Além de Jinkings, também foram representados por seus familiares, Paulo César Fonteles de Lima, João Carlos Batista, Benedito Monteiro, Carlos Sampaio, Rui Paranatinga Barata, Gabriel Pimenta, Cleo Bernardo, Itair Silva, Egydio Salles, Levi Hall de Moura, Roberto Martins, João Marques, Iza Cunha, Humberto Cunha, Cesar Moraes Leite, Raimundo Ferreira Lima, João Canuto de Oliveira, Isaac Soares, Cacica Terriwere Suruí, Virgílio Serrão Sacramento, Jocelyn Brasil, Sá Pereira, Ronaldo Barata, Heraldo Maués, Roberto Cortez, Mariano Klautau, Amado Tupiassu, Elias Pinto, Edson Luís, Antônio Jorge Abelém, Henrique Santiago, Newton Miranda, João Batista Filgueiras Marques, Irmã Doroty Stang e Edilson Araújo receberam as honrarias, assim como os professores e advogados José Helder Benatti, Girolamo Treccani, Egydio Sales Filho, Jorge Farias, João de Jesus Paes Loureiro, Marcelo Freitas, Hecilda Veiga, José Carlos Castro, Pedro Galvão, Aurélio do Carmo e Paulo Roberto Ferreira.



A comissão é composta por Renato Theophilo Marques de Nazareth Netto (da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos - Sejudh), João Lúcio Mazinni da Costa (Arquivo Público Estadual), Ana Michelli Gonçalves Siares Zagalo (Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social - Segup), Carlos Alberto Barros Bordalo (Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa), Egídio Machado Sales Filho (Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Pará), Marco Apolo Santana Leão (Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos), Paulo Cesar Fonteles de Lima Filho (Comitê Paraense pela Verdade, Memória e Justiça), Jureuda Duarte Guerra (Conselho Regional de Psicologia –PA/AP) e Maria Franssinete de Souza Florenzano (Sindicato dos Jornalistas do Pará - Sinjor). 

As Caravanas da Anistia consistemna realização de sessões públicas itinerantes de apreciação de requerimentos de anistia política acompanhadas por atividades educativas e culturais, promovidas pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. A Comissão é o órgão do Estado brasileiro responsável por reconhecer oficialmente o cometimento de atos de exceção,na plena abrangência do termo, contra brasileiros e estrangeiros,materializados em perseguições políticas e que ensejam o direito constitucionalmente assegurado à reparação. 
 
Trata-se de uma política pública de educação em direitos humanos,com o objetivo de resgatar, preservar e divulgar a memória política brasileira, em especial do período relativo à repressão ditatorial, estimulando e difundindo o debate junto à sociedade civil em torno dos temas da anistia política, da democracia e da justiça de transição.






 

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Comissão da Verdade do Pará - depoimentos

A Comissão da Verdade do Pará vem desenvolvendo um trabalho respeitável.

Abaixo, os depoimentos de Isa Jinkings e de Hecilda Veiga, para a Comissão do Pará, no Seminário "As mulheres e a resistencia à ditadura no Pará"

Depoimento de Isa Jinkings na Comissão da Verdade do Pará


Depoimento de Hecilda Veiga na Comissão da Verdade do Pará

Também deram depoimento Aurilea Abelem, Dulce Rosa, Leila Jinkings  e outras Mulheres.


 
A comissão é composta por Renato Theophilo Marques de Nazareth Netto (da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos - Sejudh), João Lúcio Mazinni da Costa (Arquivo Público Estadual), Ana Michelli Gonçalves Siares Zagalo (Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social - Segup), Carlos Alberto Barros Bordalo (Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa), Egídio Machado Sales Filho (Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Pará), Marco Apolo Santana Leão (Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos), Paulo Cesar Fonteles de Lima Filho (Comitê Paraense pela Verdade, Memória e Justiça), Jureuda Duarte Guerra (Conselho Regional de Psicologia –PA/AP) e Maria Franssinete de Souza Florenzano (Sindicato dos Jornalistas do Pará - Sinjor).

  

Raimundo e Isa Jinkings, entre os livros e a resistência!

por Lígia Berna

 
A Assembleia Legislativa do Pará realizou mais uma oitiva da Comissão da Verdade do Pará, iniciando o seminário, "As mulheres e a resistência à ditadura no Pará", que estuda a violência contra mulher, com o Grupo de Trabalho - Gênero e Ditadura da Comissão Nacional da Verdade. Na tarde de ontem (26/02), a Comissão ouviu Maria Isa e Leila Jinkings, viúva e filha, respectivamente, do livreiro, presidente do Partido Comunista Brasileiro (PCB) no Pará e presidente da Central Geral dos Trabalhadores (CGT), Raimundo Jinkings, perseguido pelo Comando de Caça aos Comunistas na época da Ditadura Militar no Pará.
Durante a audiência foram relatados aos membros da Comissão, entre eles, a presidenta do Conselho Regional de Psicologia 10ª Região do Pará e Amapá, Jureuda Guerra, uma série de experiências vividas pela família Jinkings entre os anos de 1964 a 1985, entre os estados do Maranhão e Pará.
Raimundo Jinkings entrou para o Partido Comunista em São Luís. Na época, o livreiro era servidor público do Banco da Amazônia (Basa) e foi transferido para a capital do Maranhão, por ter escrito um artigo denunciando corrupção na gestão do então presidente do Basa, Gabriel Hermes. Em Belém, a polícia o prendeu diversas vezes por supostamente ter livros subversivos. “Eles levavam livros vermelhos, o livro “A Reunião” do Carlos Drummond de Andrade, que era de poesia, mas eles achavam que era comunista. Até livros sobre cubismo, a arte, eles acreditavam que eram de Cuba”, contou Leila Jinkings, filha do livreiro.
A livraria e a própria casa da família Jinkings, em novembro de 1979, foram atacadas com tiros, pedradas e até o carro de um dos filhos de Jinkings chegou a ser incendiado pelo Comando de Caça aos Comunistas, de acordo com o relato de Maria Isa Jinkings.
Maria Isa Jinkings, esposa de Raimundo Jinkings recorda que quando o Golpe Militar ocorreu, ele se escondeu na casa de um parente da família dela. “Ele ficou na casa de uma irmã minha por um tempo, mas depois foi para casa de um estivador chamado Miguel. O seu Miguel tinha 9 filhos e nenhum deles contou que Jinkings estava escondido lá. Ele só saiu de lá, porque precisou responder um processo no Basa por abandono de emprego. Meu irmão foi de madrugada buscar ele na casa do estivador. Ele chegou ir até minha casa para se despedir das crianças e de  mim. No outro dia, quando ele bateu ponto no Basa, deram voz de prisão para ele. E foi assim que ele foi para a 5ª Companhia de Guarda do Exército, que hoje é a Casa das Onze Janelas”, explicou Maria Isa, viúva de Jinkings.
Maria Isa mandava bilhete na tampa da garrafa térmica para o Jinkings e com isso eles tiveram uma correspondência particular. Ela recorda também que tinha que levar os filhos quando ia visitar Jinkings na 5ª Companhia de Guarda do Exército. “Enquanto meus filhos brincavam nos canhões do Forte do Presépio, eu sentava em um banco e lia a carta de Jinkinngs e chorava”, emociona-se.
Raimundo Antônio da Costa Jinkings nasceu em 05 de setembro de 1927, no município de Santa Helena, no Maranhão. E morreu no dia 25 de outubro de 1995. Ele teve cinco filhos com Maria Isa.
A Comissão da Verdade do Pará criada pela Lei Estadual 7.802 de 31 de março pretende escrever um relatório  para apurar graves violações de Direitos Humanos ocorridas durante a Ditadura Militar no Pará.
Lígia Bernar é Jornalista.
Fonte: http://crp10.org.br/noticia/comissao_da_verdade_do_para_as_mulheres_e_a_resistencia_a_ditadura_no_para
http://paulofontelesfilho.blogspot.com/2015/02/ligia-bernar-raimundo-e-isa-jinkings.html
Arte: Angelina Anjos baseado no http://raimundojinkings.blogspot.com.br/p/galeria.html

domingo, 10 de maio de 2015

Dia das Mães em 64




(...)E mais do que tudo isso, sabes que continuo tranqüilo, aguardando serenamente o pronunciamento da justiça do meu País. A vida é isso mesmo. A história não segue uma linha reta. Ela é feita de avanços e recuos. A minha profunda fé nos destinos da Pátria conduziu-nos a essa separação momentânea. Nunca aceitei a tese de que tudo no Brasil estava perdido. Que a época era do salve-se quem puder. Quis dar a minha contribuição. Não fiquei indiferente às grandes lutas do povo. Não poderei, portanto, por um simples incidente na vida, descrer do futuro glorioso de minha Pátria. Reexamino todas as minhas posições e não encontro razões ponderáveis para renegá-las. Continuo o mesmo homem, com o mesmo sentimento patriótico. Sei que outro não é o teu pensamento, pois os teus princípios cristãos, que sempre respeitei e admirei, são bem diferentes dos "daquela gente que nos olha de cima para baixo, vai à missa ou se ajoelha nos templos, veste a opa nas procissões ou beija as mãos dos Ministros do Senhor, brilha nas devoções ou priva com o clero. Pessoas que enchem de fel a vida do próximo, acusam de iniqüidades os pequenos, e espremem até o sangue o coração dos seus semelhantes,” Esse tipo de cristãos que Ruy Barbosa brilhantemente retratou é o que, infelizmente, ainda atua no Brasil de forma cínica e descarada. Os jornais diariamente refletem o caráter desse tipo de gente. (trecho de carta de Jinkings no dia das mães para Isa, enviada da prisão)

Eis a íntegra:

Isa, minha querida,

Somente eu posso avaliar, em todas as proporções, o teu desejo, o teu empenho e, sobretudo, a tua grande preocupação em saber as minhas primeiras notícias. Sei que muito andaste. Creio que imploraste desesperadamente. Mas o teu esforço, a tua dedicação de esposa e mãe carinhosa e a tua sempre solidariedade humana foram recompensados. Sabes onde estou. Sabes que estou vivo. E mais do que tudo isso, sabes que continuo tranqüilo, aguardando serenamente o pronunciamento da justiça do meu País. A vida é isso mesmo. A história não segue uma linha reta. Ela é feita de avanços e recuos. A minha profunda fé nos destinos da Pátria conduziu-nos a essa separação momentânea. Nunca aceitei a tese de que tudo no Brasil estava perdido. Que a época era do salve-se quem puder. Quis dar a minha contribuição. Não fiquei indiferente às grandes lutas do povo. Não poderei, portanto, por um simples incidente na vida, descrer do futuro glorioso de minha Pátria. Reexamino todas as minhas posições e não encontro razões ponderáveis para renegá-las. Continuo o mesmo homem, com o mesmo sentimento patriótico. Sei que outro não é o teu pensamento, pois os teus princípios cristãos, que sempre respeitei e admirei, são bem diferentes dos "daquela gente que nos olha de cima para baixo, vai à missa ou se ajoelha nos templos, veste a opa nas procissões ou beija as mãos dos Ministros do Senhor, brilha nas devoções ou priva com o clero. Pessoas que enchem de fel a vida do próximo, acusam de iniqüidades os pequenos, e espremem até o sangue o coração dos seus semelhantes,” Esse tipo de cristãos que Ruy Barbosa brilhantemente retratou é o que, infelizmente, ainda atua no Brasil de forma cínica e descarada. Os jornais diariamente refletem o caráter desse tipo de gente.

domingo, 10 de agosto de 2014

Saudade de estar com êle

Saudade do meu pai, Raimundo Antônio Jinkings.
Ele adorava tratar dos animais do sítio. Era um humanista, amava as pessoas e os animais. Lutou por um mundo mais humano e justo.
Este vídeo foi filmado em mini VHS por mamãe, Isa Jinkings, em 1991, no Sítio dos Netinhos, Benevides, Pará.




por Leila Jinkings

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Miséria Humana

MISÉRIA HUMANA
Por Raimundo Jinkings



Quando passamos pelas ruas de Belém, principal­mente a João Alfredo, deparamos com um grande número de seres humanos que, certamente, já tiveram lar, já trabalharam, já produziram e já contribuíram com a parcela de seus esforços para o progresso de nossa Pátria, do nosso Estado, e para o enriquecimento de alguns privilegiados da sorte e do regime, mas que hoje estão transformados em verdadeiros farrapos humanos, jogados nas calçadas, submetidos ao sol e à chuva, sujeitos a toda sorte de misérias, comendo aquilo que o diabo enjeita, desprezados por tudo e por todos, humilhados pela própria sociedade. Esses mesmos homens que, sem dúvida, sonharam ter na velhice uma vida tranqüila, sem privações, digna dos que traba­lham e que produzem, viram seus esforços e seus ideais vencidos pela ambição insaciável dos ricos e pelo descanso dos governos. Triste realidade!


Quanto é triste e doloroso saber que dentre esses mendigos, que estão jogados ao léu, ostentando suas chagas físicas ao lado das rebrilhantes exposições de jóias, há um jovem que esteve na última guerra, lutou e sacrificou-se pela prometida liberdade e fraternidade dos povos. Esse in­feliz idealista voltou da guerra, doente, inutilizado para o resto da vida, mas cheio de esperanças, na certeza de que havia contribuído para a conquista do mundo com que so­nhara. Ao regressar, não desejava mais do que a Paz para o mundo e o necessário para sua subsistência. Entretanto tudo lhe foi negado. Os homens, que lhe prometeram vida melhor, esqueceram-se do compromisso, e estão agora gozando as delícias das fortunas conseguidas à custa da miséria do Povo durante a guerra, desse mesmo Povo de quem foram exigidos o sangue, o trabalho e o sacrifício, pa­ra defesa da Paz e da Democracia, dessa Paz e dessa Democracia que ainda não conhecemos.

Não poderá haver Democracia e nem poderá haver Paz enquanto assistirmos a cenas dolorosas como essas, e enquanto não acabarmos com os privilégios vergonhosos dessa estranha fauna dos capitalistas. O que precisamos é de justiça, mas a justiça só é perfeita, só é justiça de verdade quando é feita igualmente para todos, sem distinção condições sociais, de raças ou de cor. São do grande Simon Bolívar estas significativas palavras: "Conservai intacta a lei das leis: a igualdade. Sem ela perecem todas as liberdades, todos os direitos". Quão verdadeiras são essas palavras que, lendo-as, acreditamos com toda a sinceridade que um dia haveremos de dar ao nosso Povo aquilo que não nos é possível dar-lhe no regime capitalista: a igualdade econômica e social. No próprio Estados Unidos, o país capitalista mais rico do mundo, existe a fome e a miséria, consoante apuração feita em 1939, dos 30 milhões de famílias norte-americanas 8 milhões morreriam de fome se o governo não as socorresse, e 11 milhões lutariam contra a miséria. Referindo-se a essa estatística, o líder nacional do Partido Socialista, o eminente Dr. João Mangabeira, com precisão: “Tudo isso demonstra que ainda no país mais rico do mundo, o regime capitalista não pode resolver o problema da fome e da miséria".

O problema da pauperização em nosso Estado do governo imediatas providências medidas concretas benefício do Povo, com o objetivo de acabar com essa si­tuação difícil e desmoralizante.
Nem a mais santa das intenções resolve em contrário.

Lembrem-se de Fauchet na convenção da grande Revolu­ção Francesa:
"Considerando que a igualdade não deve ser uma miragem enganadora que todos os cidadãos inferiores, velhos órfãos indigentes, sejam albergados, vestidos e alimenta­dos à custa dos ricos; os sinais da miséria sejam destruí­dos, a mendicidade e a ociosidade sejam proscritas; que se dê trabalho a todos os cidadãos válidos".

Que adiantou? Nada. A questão, evidentemente, não é de sonhar. Ou o governo se mexe, ou o Povo virá a fazê-lo por suas próprias mãos inevitavelmente, de modo violen­to.
Há o caminho da construção socialista, pacífica, e há o caminho que garante sucessos, como os acontecimentos do Rio Grande do Sul estão a indicar. Escolha o governo a solução enquanto ainda lhe resta um pouquinho de tempo.

Folha, 10/08/1952
(Reproduzido no livro Entre as Letras e as Baionetas, de Jocelyn Brasil, pp. 179 a 181).

domingo, 2 de março de 2014

Lembranças dos sábados na Livrariazinha, por Salomão Laredo

A IMPORTÂNCIA DO LIVRO E DA LEITURA
Guerreiras. elas começaram na LIVRARIAZINHA JINKINGS: Ana Letícia e Annelise Miléo, as meninas leitoras de Santarém, estão agora no Teatro em Curitiba

Salomão Larêdo, escritor e jornalista
Ana Letícia e Annelise no colo de Salomão



Na década de 1980, objetivando ajudar na formação do leitor crítico e analítico a Livraria Jinkings abriu um espaço específico e adaptado para as crianças, denominado “Livrariazinha” e lá, convidado, começamos, com os donos da ideia e da livraria: seu Jinkings, dona Isa, Leila, Varico, Toninho e todos os funcionários, aos sábados, os processos de cooperar na formação do leitor crítico. 


As manhãs eram cheias de atrações para a criançada e seus pais, para o importante, salutar e necessário contato com o livro, a leitura. 

Lá, as crianças ouviam histórias, contação de casos e sobretudo de socialização, a conexão do ser humano com a vida nos livros, as ideias e tudo o mais que a cultura e a leitura desencadeiam. Foi uma novidade em Belém e um sucesso enorme. Lá, muita gente surgiu, descobriu se tornou leitor e ledor. 

Lembro que nessa época, aos sábados, nosso programa que sempre foi ir a uma livraria, passamos - meu, de Maria Lygia e do nosso filho Filipe – especificamente a frequentar a Livrariazinha e nesse empenho, alegria e prazer, recordo que numa manhã de sábado, lotado de crianças, estavam lá duas garotas de Santarém, que acompanhadas da mãe Ana Helena e da tia Anacacilda e elas, mocorongas – Annelise e Ana Leticia - desinibidas, cantavam e contavam coisas de seu lugar e então começamos um interação e uma amizade que perdura até hoje. 

As meninas, como mostra a foto, sentaram no meu colo e juntos, cantamos essa linda música do querido maestro Isoca, santareno que é a Lenda do Boto:


LENDA DO BOTO

Letra e Música: Wilson Fonseca (1954)
Quando boto virou gente
Pra dançar num puxirum,
Quando boto virou gente
Pra dançar num puxirum,
Trouxe o “olho”, trouxe a “flecha”,
Trouxe até muiraquitã.
E dançou a noite inteira
Com a bela cunhantã.
Um grande mistério na roça se faz:
Fugiu cunhantã com o belo rapaz!...
... E o boto, ligeiro, nas ondas sumiu,
Deixando a cabocla na beira do rio...
Se alguém lhe pergunta:
“Quem foi teu amô?”
Cabocla responde:
“Foi boto, sinhô!”


Depois as meninas retornaram a Santarém, onde, muitas vezes fui em razão do trabalho de formação do leitor pelo programa “ O Liberal na Escola” e lá, a Anacacilda levava as meninas e ficava sabendo do progresso das queridas amigas e leitoras que ajudam a tia num programa cultural numa emissora e ficava contente sabendo que elas avançavam nos estudos. Depois, perdemos contato e num dos círios, em Belém, Anacacilda fez contato e passamos a nos falar por e-mail e agora elas estavam em Curitiba, para estudar artes cênicas.

(publicado originalmente no blog de Salomão Laredo)